HOMILIA NO 1.º DOMINGO DA QUARESMA C 2025
Peregrinos de esperança, rumo à Páscoa. No caminho, eu confio em Ti!
Com este propósito vivemos a graça do tempo santo da Quaresma: trata-se de um caminho de esperança, que percorremos ao longo de quarenta dias, e que tem como meta a Páscoa: a Páscoa de Cristo em nós e a nossa Páscoa em Cristo!
1. Peregrinos de esperança.Desde as nossas raízes mais antigas, somos um povo de peregrinos, um povo chamado a sair de casa, a sair de si mesmo, a caminhar em frente, a esperar de Deus e em Deus o próprio futuro. Ouvíamo-lo naquele antigo “credo” do Povo de Israel: “Meu pai era um arameu errante, que desceu ao Egito e aí viveu” (Dt 26,5). Sim. A história do Povo de Deus é uma história aberta ao futuro. A marcar esta história, está precisamente um êxodo, um caminho de saída e de libertação, uma peregrinação de esperança, uma travessia pelo deserto, com meta na Terra Prometida. Nesta peregrinação de saída, o povo de Israel formou-se e forjou-se como um povo a caminho e conheceu a Deus como o Deus da Promessa e da Esperança: um Deus que ouve, que vê, que faz sair, um Deus que abre um caminho de saída, quando tal parece impossível: “O Senhor fez-nos sair do Egito com mão forte e braço estendido” (Dt 26,8). Deus é, para o Povo de Israel, um aliado solidário, que não abandona nem engana!
2. No caminho, eu confio em Ti.Sim. O que Deus pede, a cada instante, ao seu Povo, é que confie n’Ele, que se confie a Ele. Por isso, acrescentamos a confiança ao nosso caminho de esperança. Façamos este caminho de esperança, dizendo ao Senhor, a cada passo, e sobretudo nos momentos mais duros e obscuros da nossa vida: “No caminho, eu confio em Ti”. Em todas as circunstâncias, aconteça o que acontecer, o Senhor está connosco e caminha connosco. Este sentimento de confiança traduz a nossa fé e a nossa esperança no Senhor: “porque em Mim confiou hei de salvá-lo” (cf. Sl 90/91,14): “todo aquele que acreditar no Senhor não será confundido” (Rm 10,11; Is 28,16).Não nos fiemos em nós próprios, para alcançar o futuro. Só o poderemos esperar, como dádiva do Deus em que acreditamos e confiamos: “nós não pomos a confiança em nós mesmos, mas em Deus, que ressuscitou Jesus de entre os mortos” (2 Cor 2,9). Esta confiança liberta-nos da preocupação excessiva com o futuro, dos medos que nos paralisam e nos tiram a paz (cf. Papa Francisco, C’est la confiance, n.º 24).
3. Jesus é também ele um Peregrinode esperança. Jesus retira-Se para o deserto, lugar de paragem e de passagem, lugar provisório e de travessia, lugar de tentação e de provação. No deserto, a tentação fundamental era a de abusar da confiança, a de se aproveitar da Sua condição de Filho de Deus. Jesus não pôs a Sua confiança no espetáculo, no poder, no dinheiro. Jesus, porém, escolheu o caminho da cruz, o caminho da confiança plena no amor do Pai!
4. Irmãos e irmãs: esta travessia pelo deserto também conhece as suas tempestades. Podemos compará-las às tempestades de uma embarcação em alto mar. No meio das tempestades, o que podemos fazer? Lançar a âncora, ancorar a nossa vida na Cruz de Cristo. “Nessa esperança, temos como que uma âncora segura e firme da alma” (Hb 6, 18-20). Esta âncora, unida inseparavelmente à imagem da Cruz de Cristo, convida-nos a nunca perder a esperança que nos foi dada, a mantê-la firme, encontrando refúgio no Senhor. Então, as tempestades nunca nos poderão vencer, porque estamos ancorados na esperança dessa graça, capaz de nos fazer viver e vencer em Cristo (cf. SNC, nº 25).
5. Hoje, nesta Eucaristia, ancoramos e encorajamos em Cristo a nossa vida, no deserto da travessia. Procuremos, ao longo desta 1.ª semana da Quaresma, parar um pouco mais: parar de falar, parar de agredir, parar de fazer mal, parar para fazer silêncio; parar para reparar, parar para ponderar as escolhas e caminhos da nossa vida! Poderíamos resumir em dois imperativos o desafio quaresmal desta 1.ª semana, para ancorar a esperança e encorajar a confiança: Irmão, irmã: Ancoraja-te! E pára por favor.