HOMILIA NA SOLENIDADE DO PENTECOSTES 2025
«O Deus da esperança vos encha de toda a alegria e paz na vossa fé, para que transbordeis de esperança pela força do Espírito Santo» (Rm 15, 13). Neste Pentecostes do Espírito Santo, em Ano Jubilar da Esperança, detenhamo-nos nesta relação entre o Espírito Santo e a esperança cristã:
1. O Espírito Santo é como que um sopro, um vento impetuoso, que nos sacode, nos impele para a frente, nos mantém a caminho, nos faz despertar, caminhar, sair e avançar, pelo mar da história, como verdadeiros peregrinos de esperança. Ele não permite que nos fechemos em casa, intimidados, que vivamos dos rendimentos passados, que descansemos sobre os nossos próprios louros e que nos tornemos um povo sedentário, acomodado, preso ao seu lugar. Por isso, à imagem da âncora, símbolo da esperança, poderíamos associa esta da vela. A âncora dá à barca a segurança e mantém-na firme e segura, entre as ondas do mar. A vela fá-la caminhar e avançar sobre as águas. Precisamos de confiança sólida e de risco destemido, de ancoragem e de movimento, de sopro interior e de ação. A esperança como que recolhe o vento do Espírito Santo e o transforma em energia vital, em força motriz, que a impele sempre mais adiante, destemidamente.
2. São Paulo atribui ao Espírito Santo esta capacidade de nos fazer transbordar de esperança. O Espírito Santo, o eterno Amor do Pai e do Filho, derramado em nossos corações, daí mesmo transborda e nos impele a ir em frente, sem desanimar perante os obstáculos. Transbordar de esperança significa esperar contra qualquer esperança (Rm 4, 18), ou seja, esperar mesmo quando não se vislumbram indicadores otimistas ou motivos razoáveis para esperar ainda. Ora, quem poderá esperar assim, sem ilusão e sem desespero, a não ser pela graça do Espírito Santo? É Ele que nos concede «a perfeita esperança» (Santo Hilário). Damo-nos conta de que há um Espírito que nos faz transbordar de esperança, precisamente «quando a vida quotidiana, amarga, dececionante e aniquiladora, é vivida, até ao fim, com serenidade e perseverança; quando se experimenta o desespero, mas a pessoa misteriosamente se sente consolada sem um consolo fácil» (K. Rhaner). O Espírito Santo vem em auxílio da nossa fraqueza e habitando em nós, é o nosso alento. Sim. “O Espírito Santo, concedido aos Apóstolos como Consolador, é o guarda e o animador desta esperança em que somos salvos” (cf. São João Paulo II, Dom.Viv., 66).
3. Irmãos e irmãs: permiti-me que, concretize, esta relação entre o dom Espírito Santo e a virtude da esperança, a partir do testemunho do carismático Cardeal Suenens (1904-1996): “Sou um homem de esperança, não por razões humanas, ou por um otimismo natural. Mas, simplesmente, porque creio que o Espírito Santo atua na Igreja e no mundo, mesmo que estes não o saibam ou não o vejam! Sou um Homem de esperança, porque creio que o Espírito Santo será sempre o Espírito Criador que, todas as manhãs, dá a quem O acolhe uma liberdade nova e uma provisão de alegria e de confiança! Sou um Homem de esperança, porque sei que a História da Igreja e do mundo é uma história longa, repleta das maravilhas do Espírito Santo. Pensemos nos profetas e nos santos que, em horas cruciais, foram instrumentos prodigiosos de graças e projetaram na vida um raio luminoso! Sou um homem de esperança, porque apesar de todos as sombras de pecado, em mim e no mundo que me rodeia, creio nas surpresas impensadas e impensáveis do Espírito Santo”. Eu acrescentaria ao testemunho deste grande homem o de uma grande mulher, uma mística poetisa francesa, que nos deixou escrito: “Há lugares onde o Espírito sopra, mas há um Espírito Santo que sopra em todos os lugares” (Madeleine Delbrêl).
Que o Espírito Santo nos faça transbordar de esperança, nos transforme em semeadores e cultivadores de esperança, de consolação, de alento, de alegria, de harmonia, de paz e de confiança!
Invoquemo-l’O, cheios de confiança: Vem, Espírito Santo, guarda e animador da nossa esperança!