Liturgia e Homilias no XVI Domingo Comum A 2023
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Continuamos com Jesus, à beira-mar, a desfiar parábolas, que nos adentram nos mistérios do Reino de Deus. São mais três parábolas: a do trigo e do joio, que realça a paciência do Semeador e a concorrência do Maligno; a do grão de mostarda, que manifesta a grandeza escondida no que há de mais pequenino e humilde; e a do fermento na massa, que nos exorta a levedar o mundo com a força inerme do Evangelho. Hoje ficaremos apenas pela primeira parábola. Não tenhamos pressa em colher, mas paciência no semear! Há pressa no ar, mas não haja pressa em terra. Esta parece ser a mensagem da Palavra, que hoje vamos escutar. Confiemo-nos, desde já, à paciência indulgente de Deus, que nos julga com mansidão e bondade.

Homilia no XVI Domingo Comum A 2023

 

1. Há pressa no ar. Ouvimo-lo cantar, ao longo deste último ano, no Hino da Jornada Mundial da Juventude. Há a boa pressa no ar, a pressa de Maria, que sai de si mesma, impelida pelo Espírito Santo, para ir ao encontro da prima. Mas há a má pressa em terra, que querendo a perfeição, se torna impaciência. É a má pressa dos servos do dono da casa, que querem fazer uma monda rápida e perfeita, arrancando o joio e deixando o trigo.  O problema desta má pressa em terra é não ter em conta que trigo e joio são plantas parecidas e quase se confundem, correndo-se o risco, numa monda rápida, de arrancar com o joio também o trigo. Trigo e joio são plantas que crescem juntas, no mesmo campo e em diferentes velocidades; não crescem em lados opostos e demarcados.

2.Se aplicarmos isto à nossa vida, percebemo-lo claramente: nós próprios somos um mistério de grandeza e de miséria (B. Pascal), de atração para o alto e de sedução para o abismo. Por isso, na mesma pessoa, no mesmo grupo, na mesma família, na mesma comunidade, no mesmo partido, convivem, lado a lado, e ao mesmo tempo, o belo e o horrível, sementes de bondade e de maldade, forças construtivas e forças destrutivas. Pelo que manda a prudência que aguardemos, com paciência, os tempos da ceifa, sem antecipar na terra, um julgamento definitivo reservado para o céu. Qualquer pressa em terra para julgar a realidade, como se ela fosse toda a preto e branco, é contrário à paciência de Deus.

3.Evitemos, pois, catalogar, extirpar, excluir, cortar o joio, porque isso comporta o sério risco de levar tudo a eito. Em tudo, imitemos a paciência do bom Deus, de que nós próprios tanto precisamos, aprendendo a conviver com o negativo, sem ficarmos indiferentes ao mal, antes refreando os nossos ímpetos de intolerância, domando e dominando os nossos instintos de violência, pondo limite às nossas próprias forças destrutivas, esperando com a confiança da fé que o mal não terá a última palavra! O mal tem em si mesmo a semente da sua destruição.

4.Eu creio – irmãos e irmãs – que esta parábola do trigo e do joio se destina precisamente a situarmo-nos, com sabedoria, perante este duplo escândalo:

4.1.por um lado, o escândalo causado pelo mal. Nos últimos tempos sofremos muito com a revelação do ocultamento escandaloso do abuso de menores na Igreja. Face a este escândalo – que às vezes temos a ingénua ilusão de erradicar total e definitivamente – impõe-se-nos a humildade da nossa imperfeição, a consciência da ação do Maligno, no Corpo da Igreja, desde a própria Cabeça! Ora, a Igreja é uma casta meretriz! E o mundo é um lugar imperfeito! E tu… se te julgas um anjo, depressa te tornarás uma besta (B. Pascal). Não te escandalizes, pois, com os pecados alheios. Luta contra os teus. Se não podes ser perfeito, sê inteiro, abraçando toda a realidade da tua vida e não uma parte!

4.2.Por outro lado, esta parábola ajuda-nos a suportar o escândalo da paciência de Deus, que não reage com violência instintiva, que aguarda os tempos de cada pessoa, que espera com mansidão e paciência a conversão do joio que há em ti, em trigo bom. Deus entra no teu mal, para destruir o mal e não para te destruir a ti. A paciência de Deus ensina-te, por isso, a dares a ti mesmo e aos outros mais tempo e sempre novas oportunidades de conversão, de transformação! Olha que a pressa em terra é inimiga da perfeição!

 

5.Irmãos e irmãs: Há pressa no ar. Sim. Que bom. A JMJ está aí à porta! Mas, se queremos alcançar a perfeição no céu, não haja pressa em terra! Para o céu, iremos devagarinho e às cambalhotas. Depressa e bem, não há ninguém!

 

 

 

 

 

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