Liturgia e Homilias no 3.º Domingo do Tempo Comum A 2023
Destaque

Celebramos hoje o Domingo da Palavra, iniciativa pastoral querida pelo Papa Francisco. No dia 30 de setembro de 2019, o Papa Francisco fixou o III Domingo do Tempo Comum para celebrarmos o Domingo da Palavra (Motu proprio Aperuit illis, n.º 3). Fazemo-lo também, no contexto destes oito dias de oração pela unidade dos cristãos. “Não se trata de mera coincidência temporal: a celebração do Domingo da Palavra de Deus expressa uma valência ecuménica, porque a Sagrada Escritura indica, a quantos se colocam à sua escuta, o caminho a seguir para se chegar a uma unidade autêntica e sólida” (Ibidem).O Papa diz-nos qual é a finalidade da celebração do Domingo da Palavra: “renovar o compromisso em favor da difusão, conhecimento e aprofundamento da Sagrada Escritura, para compreender a riqueza inesgotável que provém daquele diálogo constante de Deus com o seu Povo” (Papa Francisco, Bula Misericordia et Misera, n.º 7).  Vamos, por isso, nesta celebração comprometer a nossa vida com esta Palavra e, à luz desta Palavra, rever toda a nossa vida. Abramos a nossa mente e o nosso coração para acolher esta Palavra, “lâmpada para os nossos passos e farol do nosso caminho” (Sl 118,105).

HOMILIA NO III DOMINGO COMUM A 2023 | DOMINGO DA PALAVRA ***

I. Escutámos a Palavra de Deus, hoje entronizada solenemente. De todas as leituras, certamente a do Evangelho é aquela que mais facilmente fixamos na memória e no coração, porque no centro do Evangelho está Jesus Cristo, a Palavra de Deus em Carne viva: uma Palavra com rosto, uma Palavra que Se faz ouvir e Se faz ver, uma Palavra que nos toca e podemos tocar. Fixemo-nos no Evangelho, em três pormenores, para acolhermos a partir daí três desafios neste Domingo da Palavra.

II. Três pormenores no Evangelho: o lugar, a mensagem e as pessoas:

1. Um primeiro pormenor é o lugar: Jesus inicia a Sua vida pública, não no centro religioso da época (Jerusalém), mas numa zona difícil, na Galileia dos pagãos. Cumpre-se assim a profecia de Isaías (Is 8,23-9,1): a “grande Luz”, a Luz há muito esperada, chegou. Essa Luz é Cristo e brilha a partir das periferias, nas pessoas distantes e nas terras mal-amadas, desconhecidas, desprezadas! Jesus escolhe os terrenos mais difíceis.

2. Um segundo pormenor é o foco do Evangelho no essencial da mensagem de Jesus: “Convertei-vos, porque está próximo o Reino dos céus” (Mt 4,17).Jesus não diz: “sois tão pecadores, estais condenados, Deus está longe de vós”. Não. Diz-lhes: “Deus está próximo, no vosso coração ansioso pelo bem, nas vossas vidas cheias de sofrimento e de esperança, no vosso desejo sincero de mudança. Convertei-vos, mudai de rumo, voltai-vos para Deus, que, em Mim, Se volta para vós”!

3. Um terceiro pormenor é o chamamento de Jesus a estes humildes pescadores e a sua resposta imediata. Jesus entra na sua vida concreta. Vê-os por dentro. Fala-lhes ao coração. Chama-os pelo nome, desafia-os… não a seguirem uma ideia, uma moral, mas a seguirem-n’O a Ele. Eles deixam-se olhar, interpelar, desinstalar e seguem Jesus, imediatamente, sem que a profissão ou a família, as redes ou enredos, os impedissem de aproveitar a graça daquele presente, para mudar a orientação e o rumo das suas vidas.

III.  A partir daqui, acolhamos três desafios: tornar-se discípulo, fazer discípulos, fazer arder e iluminar a Luz da Palavra:

1. Primeiro desafio: Tornar-se discípulo,deixando-se encontrar por Jesus! Precisamos do Seu olhar e de O ver; precisamos que Ele nos fale e de O ouvir; precisamos que Ele nos toque e de O tocar. A experiência do encontro pessoal com Cristo é fundamental, para nos tornarmos seus discípulos. Ora, este encontro exige-nos hoje uma maior familiaridade com a Palavra de Deus. Dediquemos mais tempo à leitura orante da Palavra, pois “desconhecer as Escrituras é ignorar Cristo” (São Jerónimo).

2. Segundo desafio: fazer discípulos! Um discípulo faz sempre outro discípulo. E procura fazê-lo, nas periferias existenciais do seu quotidiano.  Quem são essas periferias, hoje? As pessoas que vivem uma vida cheia de tudo e sem sentido para nada; as pessoas insatisfeitas, na sua procura desenfreada da felicidade; as pessoas da tua família, da tua escola, do teu trabalho, que perderam a alegria de viver, a esperança da vida eterna. Deus habita essas pessoas, na sua fome e na sua sede de justiça, de paz, de felicidade, de beleza, de bondade. Deixemos vir à luz o melhor de cada pessoa e aí ver a presença de Deus e do Seu Reino.

3. Terceiro desafio: “Arder e iluminar” (São Frei Bartolomeu dos Mártires). Que arda em nós o fogo do Espírito, para que se reacenda em nós um novo ardor na evangelização! Como arder e iluminar? É simples: “o que ouvimos com os nossos olhos, o que contemplámos e as nossas mãos tocaram acerca do Verbo da Vida” (1 Jo 1,3), é isso que anunciamos e testemunhamos, onde quer que estejamos. Que nenhuma periferia fique privada desta Luz, por falta do nosso ardor!

Irmãos e irmãs: precisamos tanto que a grande Luz Se levante sobre as zonas mais sombrias da nossa vida e do nosso mundo. Essa Luz é a Palavra de Deus. Ela é “o farol dos nossos passos e a luz dos nossos caminhos” (Sl 118,105). Que a Luz da Palavra brilhe em nós e, a partir de nós, irradie por toda a parte.

 

***

A Homilia pode ser feita em jeito de lectio divina, seguindo, de modo simples, pelo menos, os 4 passos: leitura, meditação, oração, ação.  Para tal devem convidar-se os presentes a abrir a Bíblia: (seria bom que antes da celebração os fiéis já tivessem os textos devidamente identificados com marcador, para evitar tempo de busca. Pode sugerir-se esta repartição de textos, que podem ser projetados na tela ou distribuídos previamente aos fiéis: bAla direita – convite a abrir em Is 8, 23b – 9, 3 (9, 1-4) | Ala esquerda – convite a abrir em Mt 4,12-23.

É importante manter uma conversação familiar com a assembleia, fazendo perguntas, de forma orientada, para ajudar os fiéis a descobrir as riquezas da Palavra.

O facto de o  Evangelho deste III Domingo Comum (Ano A) citar e modificar uma passagem de Isaías (Is 8,23-9,1) é uma boa pista para ajudar a compreender a relação de continuidade, rutura e separação entre o Antigo e o Novo Testamento: «O NT está oculto no AT e o Antigo está patente no Novo» (Santo Agostinho).

O Evangelho, por sua vez, reporta-nos ao início do ministério público de Jesus na Galileia e destaca o anúncio central de Jesus: o convite à conversão e a oferta do Reino. A resposta dos primeiros discípulos ao chamamento de Jesus é um bom modelo de quem escuta a Palavra e lhe obedece, sem se deixar “enredar” pela teia dos interesses pessoais.

A ação de Jesus, que prega e cura, põe em evidência a necessidade de uma evangelização que se faz não apenas da Palavra anunciada, mas da Palavra vivida e testemunhada, posta em prática. A Palavra de Jesus é eficaz (realiza o que diz) e os gestos de Jesus são eloquentes (falam por Ele).

Na 2.ª leitura, São Paulo dá testemunho da centralidade do anúncio da Boa Nova, na sua missão. E fá-lo não com palavras da sabedoria humana, mas com a Palavra da Cruz, a Palavra definitiva do amor de Deus, que Se revela em Jesus. É à luz de Jesus que toda a Escritura deve ser lida. Ele é a Palavra, que Se fez Carne e nos dá vida.

 

 

 

Top

A Paróquia Senhora da Hora utiliza cookies para lhe garantir a melhor experiência enquanto utilizador. Ao continuar a navegar no site, concorda com a utilização destes cookies. Para saber mais sobre os cookies que usamos e como apagá-los, veja a nossa Política de Privacidade Política de Cookies.

  Eu aceito o uso de cookies deste website.
EU Cookie Directive plugin by www.channeldigital.co.uk