Capela Nossa Senhora da Hora

O documento escrito e mais antigo que se conhece relativo ao santuário e festividade da Nossa Senhora de Hora, data de 16 de Maio de 1885, apenas referido anteriormente nas Memórias Paroquiais de Bouças de 1758. São exactamente as Actas da Irmandade de Nossa Senhora de Hora e S. Bartolomeu que a aludem e nos transmitem valorosas informações.

O seu passado histórico continua no obscurantismo e tudo que se conhece da sua origem e administração foi-nos transmitida pelo Jornal Primeiro de Janeiro, n° 108, de 9 de Maio de 1899, a título da Romaria da Senhora da Hora e sua programação.

Informa que foi construída por Aleixo Francisco, do Lugar de Matosinhos, pressuposto ser uma pessoa de grande riqueza, ligado possivelmente à burguesia mercantil, construção naval, ou pequena indústria de conserva de peixe, actividades muito usuais na zona marítima, mas nem sequer apresenta o seu apelido. Seria da Família do Dr. Fiel Pereira de Almeida, ao qual pertencia respectiva capela? Fundamentámo-nos na informação do referido periódico, de que em 1505 a capela era administrada por Romua

ldo de Almeida Cabral, Major dos Terços Auxiliares do Porto, sucedendo-lhe em 1506 Miguel de Almeida, que aqui possuíam casais. O apelido Almeida será mera coincidência ou tratar-se-á de um membro da mesma família, que provavelmente continuou a geri-la ao longo dos anos em que se desconhece a sua história?

Eis o teor noticioso:

Senhora da Hora - A Romaria da Senhora da Hora a realizar em 11 de Maio (de 1899), com serviço especial com bilhetes de ida e volta ao Porto, Matosinhos e Leça, cujo preço dos bilhetes sem distinção de classe e de 100 reis, com comboio de hora a hora ou de meia em meia hora, se a afluência de passageiros o exigir desde as 5h30m da manhã, as 8h e 15m da noite A Festa da Senhora da Hora - Celebra-se 5ª feira, dia da Ascensão de Nossa Senhora, a festividade de Nossa Senhora da Hora cuja imagem se venera na capelinha do lugar do mesmo nome e que demora a distância de 3 km de Matosinhos. Como de costume, deve afluir muito povo à festa, a gozar das belezas. Haverá missa solene e sermão pelo Venerendo Dr. Antonio de Azevedo Maia, abade de Modivas. De véspera, fogo de artifício tocando as músicas de Guifões e Ramalde. 5ª  feira haverá também arraial e além daquelas músicas tocará a de Matosinhos. A costumada feira da louça, passou a efectuar-se na bouça próxima do arraial. Foi uma acertada resolução da Câmara, pois o anterior era acanhadíssimo. A guarda de honra e polícia serão feitas por uma força de 20 praças de Infantaria 18 e por 12 guardas civis.

Tem a sua história a capela ou ermida, mandada construir no ano de 1514, isto é à 385 anos, nos Montes do Viso, no sítio chamado mãe d’água pelo marítimo Aleixo Francisco, de Matosinhos, o qual a administrou até ao ano de 1544, época em que o pároco de Matosinhos quis tomar a referida administração, o que não conseguiu pela resistência oposta. Assim continuou a ermida a ser administrada por de votos da imagem da Senhora da Hora, até que em 1705 assumiu essa administração Romualdo de Almeida Cabral, Major dos Terços Auxiliares da cidade do Porto e morador na sua Quinta da Foz do Douro, sucedendo-lhe em 1706 Miguel d’Almeida.

Ignora-se quem fossem os seus sucessores, mas presume-se com fundamento que a administração esteve a cargo dos possuidores de bens, que no lugar pertenceram ao citado Romualdo, não havendo porém vestígios para com exactidão se conhecerem os verdadeiros administradores. Em 1 736 foram prestadas contas à Provedoria do Porto, que assim o exigiu, e desde então, até ao ano de 1815, isto é, durante 79 anos, ignora-se completamente como decorreu a administração da capela. Nesse ano eram administradores André Domingues dos Santos, António José dos Santos e Manuel José dos Santos e pretendeu o reitor, que era de Matosinhos, Francisco Luís Pereira, tomar a seu cargo a capela, e como encontrasse oposição por parte dos moradores, mandou arrombar as portas da ermida e tomou conta dos fundos, livros e mais títulos que lá existiam. Os administradores intentaram acção judicial e venceram.Em 1821, por deficiência de documentos da despesa da Irmandade, foi dissolvida a mesa, não tendo feito entrega de livros, dinheiro, etc.. Na capela, no ano de 1836, havia duas imagens de Nossa Senhora da Hora e as imagens de São José e Santo António, com diferentes alfaias e adornos.


Antigamente possuía a capelinha ricos paramentos, os quais foram levados pelo exército francês, recebendo apenas a mesa administrativa um pano de um púlpito e um frontal de altar bordados a ouro, depois de insistentes reclamações.

Desde 1890 têm sido feitas importantes melhoramentos na ermida da Senhora da Hora, pelos indivíduos que a têm administrado. Um desses melhoramentos foi a mudança das Sete Bicas, deliciosa água dos mananciais que ali existem. Era antiquíssima essa obra, não há mesmo vestígios da sua construção. A mudança efectuou-se em 1893, sendo restaurada a fonte...”


Em 14 de Fevereiro de 1892, foi adquirida licença de Sua Eminência o Bispo do Porto para uso do Sacrário na capela, no intuito de poder sair dali o Sagrada Viático (Sacramento da Eucaristia fora da Igreja) aos enfermos, para lhes ministrar a comunhão, assim como às pessoas que quisessem confessar-se ali durante a Quaresma, sendo exigido ao Juiz da Irmandade assinar um termo de responsabilidade na Câmara Eclesiástica, em que se obrigava a mesma instituição a ter na capela uma lâmpada acesa permanentemente e mandar dizer missa pelo menos todos os quinze dias, para renovação do Santíssimo Sacramento (cf. Livro das Actas da Irmandade de Nossa Senhora da Hora e S. Bartolomeu, 1885-1893, p-24).

Em 12 de Janeiro de 1886 foi programado efectuarem-se obras de reparação no corpo da capela, mas por administração directa da Irmandade, por não ser possível calcular o seu cômputo. Optaram para o efeito, o artífice António Joaquim da Rocha, obreiro da sua confiança (cf. Livro das Actas da Irmandade de Nossa Senhora da Hora e S. Bartolomeu, 1885-1893, p.9vº).

Em 18 de Agosto do mesmo ano, as obras de reparação na armação e reconstrução do telhado do corpo principal da Igreja foram autorizadas e já anteriormente o haviam sido para a capela mor, calculada a obra em 79$955 réis mais 15$000, produto da venda da telha velha, de fraca qualidade e já antiga.

Em Novembro, após uma análise mais pormenorizada ao telhado, concluíram que a armação que o iria suportar com telha tipo Marselha, mais leve que a que tinha anteriormente, se encontrava em boas condições de segurança, havendo somente dois barrotes, que assentavam na parede podres e descobertos nos extremos, estando portanto apto o restante embarramento para suportar o telhado.
Em 26 de Setembro de 1897, após a abertura de propostas para reforma do telhado, foi adjudicada em praça a obra, a Joaquim Pereira dos Santos, do Porto, pela quantia de 55$000 réis, com o qual a Irmandade assinou um protocolo1.

Em 27 de Dezembro de 1897, foi aprovado o 1° orçamento suplementar para obras de reparação e mudança dos altares de Nossa Senhora da Piedade e Nossa Senhora da Saúde e sua introdução na parede, para daí resultar um maior espaço na entrada da capela-mor, porque a forma como estava anteriormente colocada, tornava-a acanhada e dificultava bastante o trânsito dos fiéis que vinham visitar a Virgem Nossa Senhora da Hora no dia da sua festividade2. O contrato das referidas obras entre as partes envolventes foi assinado, após serem adjudicadas em praça pela quantia de 30$000 réis.
Em 3 de Julho de 1898, o padre António Dias da Silva Aroso ofereceu-se, para, quase à sua custa, mandar dourar os altares de Nossa Senhora da Saúde e de Nossa Senhora da Piedade, os dois altares existentes na altura, com excepção do da capela-mor. A Mesa da Irmandade aceitou a oferta e achou que era de grande vantagem, por não ter fundos para o fazer e dourados ficavam com outro merecimento e valor, do que pintados de branco, como estavam.

No final do Século XIX, designadamente em 1899, a capela era diariamente visitada por dezenas de devotos e no dia da Romaria de Nossa Senhora da Hora por milhares de pessoas, umas que vinham cumprir promessas de dívida, outras por veraneio, por o local ser muito belo e higiénico, portanto óptimo para a saúde, de salientar que naquela época era muitíssimo arborizado e explorado no âmbito agrícola nas inúmeras quintas e terrenos que nele se enquadravam.

Em 30 de Junho de 1899, há referência que na capela há muito existia o Sagrado Viático, ministrado aos moradores da Senhora da Hora, por a Igreja Matriz no Lugar de Matosinhos se encontrar a 3,5 km de distância deste local, no final do Século XIX, já bastante densa a sua população, que aqui era ouvida missa aos Domingos e Dias Santificados e cumpriam os demais preceitos da Igreja. Em 7 de Janeiro de 1906, foi lavrado um termo de contrato para obras de carpinteiro, tralha e pintura, incluindo teto, telhado e pintura da capela, adjudicada a obra por 470$000.
No início da Segunda Década do Século XX, o edifício foi acrescido de uma torre sineira, tornando-o mais elegante e harmonioso.
Em 21 de Abril de 1911, foi firmado um termo de contrato para obras de construção da dita torre sineira e reparos interiores, adjudicadas as obras por 66$800 réis ao pedreiro e 25$200 ao trolha, após terem ido a praça pública, sendo estas as propostas mais vantajosas, apresentadas por José Ferreira Júnior, mestre pedreiro, morador na Circunvalação e Manuel Sobral, trolha, residente em Requesende, que com a Mesa Administrativa da Irmandade assinaram um protocolo. Em 17 de Setembro de 1921, o capelão José Leite Dias de Pinho, aproveitou a doença e ausência do Juiz da Irmandade de Nossa Senhora da Hora e S. Bartolomeu e enviou um ofício à Mesa, exigindo resposta urgente, a pedir autorização para alterar o camarim de Nossa Senhora da Hora. Em 25 do mesmo mês a resposta foi peremptoriamente negativa. Foram unânimes que seria um crime alterar a talha dourada do altar mor, por ser de grande beleza, de elevado valor real e estimativo. Classificaram a atitude do pároco, ao fazer tal solicitação, de caprichosa e equívoca, justificando somente que a mudança era apenas uma sua simples ambição.

Nela se celebrava missa aos domingos e dias santificados, pelo capelão, contratado pela Mesa da Irmandade de Nossa Senhora da Hora e S. Bartolomeu, se faziam baptizados, casamentos.

O seu frontispício é singelo, elegante, rematado por um frontão triangular, encimada por urna cruz, ladeado de um pináculo. A torre sineira termina com diversos pináculos arredondados.

De uma só nave, uma arcada elevada, separa-a da capela-mor, que se situa em plano superior, o altar-mor de Nossa Senhora da Hora é sumptuoso, imponente, em estilo Barroco, de rica talha dourada, com arcaduras sobrepostas, suportadas por capiteis de colunas salomónicas, profusamente ornamentado com anjos e motivos vegetais que lhe são característicos, designadamente cachos de uva e parras.

A imagem de Nossa Senhora da Hora é de tipo-roca, de reduzido valor escultórico, mas de elevado mérito religioso.

As suas feições são correctas e restante conjunto, harmonioso. O vestido e manto da Mãe, assim como o vestido do Menino Jesus, que tem nos braços, são bordados a ouro e as suas coroas são também deste metal, trocadas pelo ouro das ofertas e fruto das promessas que lhe eram feitas.

A seus pés, na pianha em que assenta, encontram-se dois anjos. No seu lado direito, em lugar de honra, encontra-se S. Bartolomeu, à esquerda São José.

Actualmente, além do altar-mor, existem na capela três altares. A esquerda para quem entra, encontra-se o altar de Nossa Senhora de Fátima, à direita e em primeiro lugar o que pertenceu outrora à capela de S. Bartolomeu, agora do Sagrado Coração de Jesus, a seguir o de Nossa Senhora da Piedade para uns, da Soledade para outros, escultura em redoma, de elevado valor e rara beleza, que no presente é conhecido por altar de Nossa Senhora da Conceição, detentor também da sua imagem.

Funcionou como Igreja Matriz desde 25 de Abril de 1918, data em que foi erecta a Paróquia da Senhora da Hora. Quando o Padre Fernando Rosas foi colocado na Paróquia da Senhora da Hora, veio encontrar a antiga Igreja Matriz em estado muito degradado, pelo que encetou esforços junto das entidades competentes para a sua recuperação, assim como do Parque das Sete Bicas e Igreja nova, obras que tiveram início em 1998 estando no presente já concluídas. O seu financiamento foi feito pela Câmara Municipal de Matosinhos, Paróquia da Senhora da Hora e PIDAC, que contribuiu com 60% do valor total.

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