Homilia na festa da Exaltação da Santa Cruz 2025

1. Peregrinos de esperança, temos como âncora a Cruz de Cristo, exposta ao nosso olhar, diante da qual podemos sempre exclamar: Ó Cruz, nossa única esperança. Mas poderá sê-lo? Na Cruz parece, pelo contrário, que todas as nossas esperanças, saíram defraudadas! Na Cruz, Jesus desilude quantos esperavam tudo d’Ele: uma manifestação de força, uma prova de poder, uma libertação política, a desforra dos inimigos. Na verdade, Jesus não desce da Cruz; não Se salva a Si mesmo, nem nos salva a nós daCruz. Salva-nos na Cruz. Neste sentido, todas as esperanças terrenas, que nos iludem com soluções fáceis, esboroam-se diante da Cruz.! Quem espera de Jesus milagres convincentes, para bem curtas esperanças, vive de ilusões, sonhos e fantasias, de uma expetativa que engana e, por isso, fica desiludido A esperança da Cruz é outra: uma esperança crucificada, que não engana; é uma esperança que cresce e se purifica e se consolida no mal e frente ao mal. É uma esperança, com passagem obrigatória pelo caminho do amor, que cresce sempre pela via da dor.

2. A Cruz é mesmo a nossa única esperança. Por meio da Cruz de Cristo, o mal é vencido, a morte é derrotada, a vida é-nos doada, a esperança é-nos restituída, porque a Cruz fala da vitória da não-violência sobre a opressão, fala de Deus que eleva os humildes, que dá força aos fracos, que faz superar as divisões e vencer o ódio com o amor. A Cruz mostra-nos como, no abismo do fracasso humano, se revela o abismo ainda mais profundo do amor divino!A Cruz fala a todos aqueles que sofrem e oferece-lhes a esperança de que Deus pode transformar o seu sofrimento em comunhão, a sua morte em vida. Ali se espelha – como no poste onde era exposta a serpente – todo o veneno do nosso pecado, mas também ali está diante do nosso olhar o remédio com que a misericórdia de Deus nos alcança e salva.

3. Se nos parecer estranho fazer da Cruz a nossa esperança, valerá a pena fazermos este exercício de reflexão: E se Jesus descesse da Cruz, se Ele se manifestasse poderoso, valendo-se da sua igualdade com Deus? Não estaria Ele a dar-nos uma esperança ilusória? Se Deus poupasse o Seu Filho à morte, em Quem poderiam esperar as vítimas indefesas da violência gratuita? Sem a Cruz, em Quem haviam de pôr a sua esperança tantas pessoas humilhadas e violentadas, sem defesa alguma? Sem a Cruz, a Quem se agarrariam os doentes crónicos e os moribundos, sem cura nem esperança de vida? Quem, senão um Deus Crucificado, poderia oferecer consolo às vítimas das tragédias naturais ou dos acidentes mortais? Se o nosso Deus Se tivesse escapulido da Cruz, a Quem se poderiam confiar os feridos e descartados da vida, os perseguidos e mutilados, os destruídos e os ignorados, as vítimas inocentes da ânsia de poder e da ganância de dinheiro … se na Cruz não morresse por eles o Filho de Deus?Se Jesus desistisse e descesse da Cruz, a solidariedade de Deus com o sofrimento da Humanidade não teria ido até ao fim. E a verdade de que Deus é Amor ficaria suspensa no vazio. A esperança seria então a primeira a morrer. Mas não. Jesus tomou sobre Si todas as nossas dores e do alto da Cruz diz a cada um: Tem esperança. Não estás sozinho na tua cruz!Eu levo-a contigo! Eu venci a morte e vim para te dar esperança e vida.Um mundo sem Cruz seria um mundo sem esperança!

4. Como exercício de esperança, valorizemos o sinal e o símbolo da Cruz. Curiosamente, escondemos a Cruz no peito ou colocamo-la à cabeceira do quarto! A Cruz, na maior parte do tempo, ou está escondida ou está atrás de nós! Ora, é preciso cruzar-se com a Cruz, mais tempo, mais vezes, mais de frente! Já quanto a fazermos bem o sinal da Cruz, oh… coisa rara! No entanto, há poucos momentos de oração tão intensos, tão concentrados, como fazer o sinal da Cruz. Olhando e abraçando a Cruz do Senhor, traçando-a solenemente sobre a fronte, os lábios, o peito e os ombros, encontraremos força e esperança, para carregar a nossa própria Cruz, com amor. Nos momentos de dor e de sofrimento, de desespero e cansaço, o Senhor nos dê a visão do Imperador Constantino, que pôde ler nos céus esta palavra de esperança: “In hoc signo vinces”, “Por este sinal, vencerás”! A Cruz é a nossa única esperança!