HOMILIA NO VI DOMINGO DA PÁSCOA C 2025
“Deixo-vos a Paz. Dou-vos a minha Paz. Não como o mundo vo-la dá” (Jo 14,27)!
1. Não há talvez maior esperança, maior desejo, maior sede, sonho mais acalentado no coração ferido de cada um, no coração ardente da família humana e em toda a Terra, do que o dom da Paz. Percebeu-o claramente o Papa Leão XIV, ao saudar-nos, no dia da sua eleição, com a Paz de Cristo Ressuscitado: “uma paz desarmada e uma paz desarmante; uma paz humilde e uma paz perseverante; uma paz que vem de Deus, do Deus que nos ama a todos incondicionalmente” (Leão XIV, Bênção Urbi et Orbi, 8.05.2025).
2. E as primeiras intervenções públicas do Papa Leão XIV focaram-se no tema da Paz. No primeiro encontro com os jornalistas, deixou um desafio que é tão oportuno para nós, para as nossas relações pessoais, para a nossa comunicação em família e nas redes sociais, tão cheias de agressividade, de preconceito, de falsidade e violência: “A paz começa em cada um de nós: na forma como olhamos para os outros, ouvimos os outros, falamos dos outros; temos de dizer «não» à guerra das palavras e das imagens. Desarmemos as palavras e ajudaremos a desarmar a Terra”. E assim o Papa nos desafiou a “uma comunicação desarmada e desarmante”, “que não procura o consenso a qualquer custo, que não se reveste de palavras agressivas, que não adere ao modelo da competição, que nunca separa a busca da verdade e o amor com que a que devemos humildemente procurar” (Leão XIV, Discurso, 12.05.2025). No campo das discussões, religiosas, políticas, sociais, aprendemos hoje dos Apóstolos, sob a ação do Espírito Santo, a manter "no essencial, a unidade; na dúvida, a liberdade; em tudo, a caridade" (Santo Agostinho). Dias depois, num outro Discurso, o Papa voltaria a este tema da Paz, ligando-o de novo à comunicação “pois também com as palavras se pode ferir e matar” (Leão XIV, Discurso, 16.05.2025). Procuremos, nas relações pessoais, nas redes sociais, nos ambientes paroquiais, desarmar as palavras: combater a má língua, banir as palavras de ódio e usar apenas as armas que desarmam: a oração, o perdão, o amor aos inimigos, o amor capaz de aproximar, de unir, de reconstruir e de reconciliar.
3. Jesus dá-nos mais do que a Paz que o mundo dá. Esta Paz, dom do Ressuscitado, fruto do Espírito Santo, não se reduz a uma simples trégua no meio do combate, a uma pausa de repouso entre uma disputa e outra; não é uma mera ausência de guerra e de conflito. Jesus dá-nos aquela Paz, capaz de vencer toda a perturbação, todo o temor e inquietude, que desassossegam o nosso coração. Porque nós não perdemos a paz só com a guerra. Perdemos a paz com a consciência que nos acusa; com um problema que nos angustia; com o terror e o medo, diante de perigos que ameaçam o presente e o futuro. Precisamos, por isso, da Paz, como um fruto do Espírito Santo quando faz a sua morada em nós! Nas dores e aflições, Ele enche de alegria os nossos corações; é descanso na luta e conforto no pranto; abranda durezas para os caminhantes, anima os tristes, guia os errantes (cf. Sequência do Pentecostes). Por isso, se queres a Paz no teu coração deixa-te consolar pelo Espírito Santo. É o Seu Amor que te dá a Paz!
4. Irmãos e imãs: nesta reta final do tempo pascal, rezemos para alcançar do Espírito Santo um coração novo, que as nossas mãos são incapazes de criar. Invoquemos o Espírito Santo, para exercitarmos e alcançarmos a esperança, que nos faz manter de pé. Rezemos para que a guerra termine em Gaza, na Ucrânia, em Moçambique, em tantas partes do mundo, mas rezemos e lutemos pela paz, também dentro de nós, nos nossos grupos e com quem nos rodeia mais de perto. Como dizia Santo Agostinho: «Vivamos bem e os tempos serão bons! Nós somos os tempos» (Sermão 80, 8).
5. Rezemos, neste mês, com Maria, a Estrela do Mar, para que não nos deixe naufragar na tempestade da guerra: dentro de nós e à nossa volta. Maria acompanha-nos nesta luta pela Paz, com a coragem e a confiança de que o Príncipe deste Mundo não vencerá, o mal não prevalecerá, o amor triunfará.
Sejamos homens e mulheres de Paz, através dos nossos olhares meigos, das nossas palavras boas, das nossas mãos desarmadas, dos nossos passos de aproximação, dos nossos abraços de reconciliação, até que sejamos todos um só, no único Cristo, nossa Paz sem fim.