Liturgia e Homilias no V Domingo da Páscoa B 2024
Destaque

Continuamos a celebrar a grande e a maior revolução da nossa história da salvação, que é a Páscoa de Cristo, a Páscoa da nossa liberdade e da nossa libertação. Somos filhos e herdeiros, somos instrumentos e frutos desta revolução maior do amor, mais forte que o pecado e a morte. Enraizados em Cristo, como ramos na videira, somos chamados a falar abertamente a todos de Jesus, com coragem intrépida, com ousadia, sem medo, desassombradamente, porque na verdade o Senhor, que interceta o caminho da nossa vida, converte-nos em seus discípulos missionários.

Homilia no V Domingo da Páscoa B 2024

1.Celebrámos há três (ou dois)dias os 50 anos do 25 de abril. Seja qual for a leitura política ou histórica que façamos da Revolução dos Cravos, creio que há um consenso quanto a um dos seus mais belos frutos: a conquista da liberdade: de pensamento, de debate, de confronto, de opinião, de expressão, de religião. Regozijamo-nos, então, como cidadãos e como cristãos, por esta conquista, pois o direito ao exercício da liberdade é uma exigência inseparável da dignidade humana (cf. CIC 436). Admiramos e agradecemos aqueles que arriscaram e deram a vida, porque não se calaram, porque não deixaram amordaçar o seu pensamento, a sua opinião, a sua voz.

2. E hoje a Palavra de Deus, traz-nos um herói da maior revolução do mundo, que foi a Páscoa de Cristo, a Páscoa da nossa liberdade, porque nos libertou do pecado e da morte, porque nos conquistou a vida plena e nos alcançou a gloriosa liberdade dos filhos de Deus. Um desses grandes heróis da revolução da Páscoa de Jesus é Saulo. Saulo, o perseguidor de cristãos, foi convertido em Paulo, Apóstolo de Cristo. À vista desta revolução libertadora na vida de Paulo, Barnabé contava aos Apóstolos como Saulo, no caminho, tinha visto o Senhor, que lhe tinha falado e como em Damasco tinha pregado com firmeza em nome de Jesus. Paulo foi um fruto e é agora um instrumento espantoso da revolução daquela Páscoa de abril, do ano 33 da era cristã.

3.“Tinha pregado com firmeza” (At 9,27), diz o texto a respeito da pregação de Saulo em Damasco e depois em Jerusalém. Há outras traduções que dizem “falava abertamente” (tr. Frederico Lourenço), ou “falava corajosamente” (CEP, Nova Tradução da Bíblia). A palavra original do texto diz-nos, literalmente, que Paulo falava com “parrésia”.  Parrésia é uma palavra grega que o Papa Francisco usa muito, quando nos desafia a falar abertamente, com coragem, com honestidade, com franqueza, com arrojo, com desassombro, com confiança, com liberdade, sem a presunção de se ter razão ou a última palavra. Que significa para nós, “falar com parrésia”? Será dizer tudo o que nos apetece? Será ter o coração na boca? Será dizer a verdade, faltando à caridade? Não. Proponho três regras, para esta audaciosa liberdade de expressão:

3.1.Falar com parrésia significa tomar e dar a palavra, como quem dá testemunho do que lhe parece ser a voz do Espírito Santo, no seu coração. Para isso, antes de falar, devemos calar, fazer silêncio, deixar a voz de Deus ressoar no fundo de nós mesmos.  Só a partir desta escuta humilde, de uma voz tão íntima, é possível falarmos, dizermos tudo aquilo que, no Senhor, não podemos calar. Parrésia é dizer aquilo que, em consciência, me parece sugerido pelo Espírito Santo, e que pode ser útil a todos, para o discernimento, em ordem a uma decisão comum, para o maior bem de todos.

3.2.Falar com parrésia implica também respeitar e promover a liberdade do outro para me falar e, por isso mesmo, estar disponível para o escutar, estar recetivo até para abandonar ou refazer a minha opinião pessoal inicial. Acreditamos que, através dos outros, o Espírito Santo nos sugere algo para o bem comum» (cf. 1 Cor 12,7).

3.3. Uma das condições para falar com parrésia é procurarmos juntos a verdade e dizê-la sempre na caridade. Só por amor devo falar. Só por amor devo calar. “Não amemos com palavras e com a língua” (1 Jo 3,18), mas as palavras da nossa língua manifestam claramente até que ponto amamos aqueles com quem falamos e de quem falamos. A parrésia, feita de crítica ou de contestação, só é verdadeira se nasce do amor de Deus em mim, por aquela pessoa, pela esposa, pelo marido, pelos filhos, pelos outros, pela Igreja, pela minha terra, pelo meu país... Esta parrésia não contém maldição e maledicência, irritação e amargura, piadas e biqueiradas, mas constrói uma atmosfera de confiança e de encorajamento mútuo.  Por isso, a parrésia tem a sua medida no fruto que dá: não destrói, mas edifica e faz crescer com o alento do Espírito Santo. O fruto que se espera desta parrésia é que todos cresçam na compreensão das pessoas e na resolução dos problemas.

Digamos só o que edifica o outro, a família e a comunidade, até alcançarmos juntos os mais belos frutos da Páscoa da liberdade, a nossa maior Revolução!

 

 

 

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