Liturgia e Homilias | I Domingo da Quaresma A 2020
Destaque

Todos aqui renascemos”. Este é o nosso desejo, o nosso propósito, o nosso lema, para esta Quaresma, iniciada na passada quarta-feira, com a imposição das cinzas, e que nos conduzirá à celebração da Páscoa do Senhor. “Todos aqui renascemos”. Este desejo de «renascer», de regenerar, de renovar, de reconciliar, de reconduzir toda a nossa vida à luz da fé, aplica-se a esta Quaresma, que começamos já a viver. Na verdade, a Quaresma “é um tempo favorável para nos prepararmos, a fim de celebrar, de coração renovado, o grande mistério da morte e ressurreição de Jesus, pedra angular da vida cristã pessoal e comunitária” (Papa Francisco, Mensagem para a Quaresma 2020, n.º 1). Este é, pois, um tempo que nos é dado para nascer e “renascer uma e outra vez” (Ibidem; cf. Christus vivit, n.º 123). A Quaresma que nos é dada viver este ano é, sobretudo, um tempo favorável para preparar ou descobrir a beleza do acontecimento fundamental do nosso Batismo, pelo qual renascemos, morrendo e ressuscitando com Cristo, para uma vida nova.

 

Homilia no I Domingo da Quaresma A 2019

1.Sim, renuncio”! Na celebração do Batismo – e sempre que renovamos as promessas batismais – antes mesmo de dizermos «sim, creio», somos convidados a renunciar, a dizer uma e outra vez, “sim, renuncio”. É o mesmo que dizer «não»: não a uma vida sem Deus, como se fôssemos deuses de nós mesmos ou dos outros; não a uma vida fechada sobre nós ou de fachada diante dos outros; não a uma vida contaminada pelo vírus do domínio sobre os demais. Na Igreja antiga, o candidato ao Batismo, para pronunciar este «não» virava-se para o ocidente, símbolo das trevas, do pôr do sol, da morte e pronunciava, por três vezes, este “não”. Na verdade, quem diz «sim» a Deus, quem escolhe seguir Jesus, quem se deixa guiar pelo Espírito Santo, tem de dizer «não», tem de renunciar a si próprio, ao pecado, à sedução do Maligno. Não se pode andar de bem com Deus e com o Diabo! Para renascer, é mesmo preciso renunciar.

2.Como exercitar esta renúncia, para renascer uma e outra vez e desta vez? Somos conduzidos, como Jesus, ao deserto. Que significa este deserto? O que é que ele implica? Vejamos três dimensões do deserto, três renúncias, para três escolhas[1]:   

2.1. No deserto somos envolvidos por um grande silêncio: nenhum rumor, à exceção do vento e da nossa respiração. Pois bem, o deserto é o lugar do afastamento da balbúrdia que nos rodeia. O deserto é ausência de palavras, para dar espaço à Palavra de Deus, que é como a brisa ligeira a acariciar o coração. A Quaresma é o tempo favorável para apagar a televisão e abrir a Bíblia, o tempo para desligar o telemóvel e conectar-se ao Evangelho, o tempo para renunciar a críticas e murmurações, a palavras agressivas e ofensivas, que as redes sociais amplificam. Hoje insulta-se como quem diz «bom dia»! Afogados num mar de palavras, temos dificuldade em ouvir a voz do Senhor. Façamos terapia da fala, com uma cura de silêncio.Para quê? Paradialogarmos mais intimamente com o Senhor. Como de pão, e mais que de pão, temos necessidade da Palavra de Deus, precisamos de falar com Deus, precisamos de rezar. Dialogar no silêncio, com o Senhor, volta a dar-nos a vida, faz-nos renascer como filhos de Deus.

2.2. O deserto é o lugar do essencial.Quantas coisas inúteis nos rodeiam e enredam. Parece que nos dão poder, mas dominam-nos. Quanto nos faria bem libertarmo-nos destas coisas supérfluas, para redescobrir aquilo que conta, para reencontrar os rostos de quem está ao nosso lado?! Também sobre isto Jesus dá-nos o exemplo, jejuando. Jejuar é saber renunciar às coisas vãs, ao supérfluo, para ir ao essencial. Procuraremos a beleza de uma vida mais simples, a desintoxicação do corpo e da alma. Esta ecologia do coração faz-nos renascer!

2.3.Por fim, o deserto é o lugar da solidão, não tanto da solidão procurada, desejada, mas sobretudo daquela solidão forçada, da solidão sofrida por tantas pessoas marginalizadas e sós: elas são esse “deserto” que espera pela nossa caridade, para reflorir. Sigamos Jesus, até ao deserto dos sós, dos descartados, dos isolados, dos pobres, dos idosos. Renunciemos ao comodismo e à indiferença. Entremos nesses desertos para saborear a Páscoa, a força do amor de Deus que renova a nossa vida.

3.O deserto é, por isso, lugar para a renúncia, em ordem a novas escolhas, escolhas decisivas, que façam reflorir a beleza e a graça do Batismo. Com Cristo, tais desertos e tais renúncias hão de reflorir em jardim de vida nova. E assim, também do deserto, onde somos lavados a seco, se poderá dizer, com toda a verdade, que “todos aqui renascemos!



[1] Seguimos de perto a reflexão do Papa Francisco na Audiência de 4.ª-Feira de Cinzas 2020.

 

 

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