Liturgia e Homilias | VII Domingo Comum A 2020
Destaque

Continuamos, com Jesus, no alto da montanha, a escutar nas alturas, em alta frequência e alta-fidelidade, o que não se pode escutar cá em baixo, em onda média, no meio do barulho e do entulho. Passo a passo, Jesus convida-nos a ir sempre mais alto e mais além, no caminho do amor. Um caminho de não violência, num amor sem limites! É difícil resistir ao terramoto interior que as Suas palavras fazem estremecer dentro de nós! Mais do que querer dar a volta ao texto, deixemos que o texto nos dê a volta a nós. E reconheçamos diante do Senhor que, sem Ele, nada podemos fazer.

Homilia no VII Domingo Comum A 2020

1.Isto não é para pessoas boas nem para boas pessoas! Isto não é uma proposta de correção para os maus e de melhoria para os bons. O que aqui está, no Sermão da Montanha, é outra coisa: é a fasquia mais alta do amor, é a aposta na plenitude da nossa própria humanidade. A isto não se chama perfecionismo humano nem virtude moral. A esta radicalidade chama-se «santidade». Da santidade de Deus é que pode brotar, na ferida da nossa própria humanidade, este fruto da santidade. O que aqui nos é proposto, no Sermão da Montanha, não é fazer aos outros o que os outros nos fazem a nós e nem é tampouco fazer pelos outros mais e melhor do que os outros fazem por nós. No caminho da santidade, a medida não vem de mim nem do outro: vem de Deus. Por isso, a regra da santidade é esta: “Faz aos outros o que Deus te faz a ti; ou, faz pelos outros o que Deus faz por ti”. A medida mais alta do amor não está nas minhas mãos, não se conquista por um esforço virtuoso; esta “medida alta da vida cristã comum” (NMI 31)vem do amor com que Deus me ama! Como Deus age contigo, assim deves agir e reagir com os outros. Ser santo não é, portanto, ser especial ou genial, não é ser um pouco melhor e, muito menos, julgar-se melhor do que os outros. Na verdade, Deus não quer homens e mulheres melhores! Deus quer que sejamos plenamente humanos; que deixemos reflorir em nós toda a beleza da nossa humanidade. Deus quer que vivamos como Seus filhos e filhas, que se sentem amados e realizados e, por isso mesmo, se tornam pessoas plenamente humanas, irradiando aos outros o amor que d’Ele recebem.

2.Irmãos e irmãs: estamos a viver este ano pastoral centrados na redescoberta do Batismo. Não podemos ignorar que da raiz batismal brota esta vocação universal à santidade, para todos. O desafio lançado pelo Papa Francisco é este: “Deixa que a graça do teu Batismo frutifique num caminho de santidade” (GE 15). Escrevera, com grande vigor, São João Paulo II, no início do novo milénio: “Perguntar a um catecúmeno: «Queres receber o Batismo?» significa ao mesmo tempo pedir-lhe: «Queres fazer-te santo?» Significa colocar na sua estrada o radicalismo do Sermão da Montanha: «Sede perfeitos, como é perfeito o vosso Pai celeste» (Mt 5,48)” (NMI 31). Porquê? O mesmo o justifica: “Se o Batismo é um verdadeiro ingresso na santidade de Deus através da inserção em Cristo e da habitação do seu Espírito, seria um contrassenso contentar-se com uma vida medíocre, pautada por uma ética minimalista e uma religiosidade superficial” (NMI 31). Ética minimalista é contentar-se em cumprir os mínimos deveres, em vez de amar e dar tudo de si e de seu. Religiosidade superficial é fazer apenas algumas boas ações, para satisfazer a Deus e, com elas, obter o desconto dos meus pecados. A isto tudo, falta a radicalidade do amor, a medida alta da santidade, o deixar-se amar e animar pelo amor de Deus, para amar como Deus ama, para amar os que Deus ama. Não será de mais?! Perguntarás.Não. Não tenhas medo de apontar para mais alto, de te deixares amar e libertar por Deus. Não tenhas medo de te deixares guiar pelo Espírito Santo. A santidade não te torna menos humano, porque é o encontro da tua fragilidade com a força da graça” (GE 34).

3.Irmãos e irmãs: estamos às portas da Quaresma. Podemos começar a fazer um programa, com algumas renúncias e propósitos de emenda. Mas tudo isto não basta. Ousemos ir mais alto, mais longe. Ousemos programar a santidade! Isto parece-te algo de pouco prático?! Trata-se então de colocar a tua vida na direção da sua plenitude, de modo a tomares consciência da pobreza que és e da grandeza do que és chamado a ser. “Deixa que tudo (em ti) esteja aberto a Deus e, para isso, opta por Ele, escolhe Deus sem cessar. Não desanimes, porque tens a força do Espírito Santo para tornar possível a santidade e, no fundo, esta é o fruto do Espírito Santo na tua vida (cf. Gal 5, 22-23)” (GE 15). Vem aí o tempo santo da Quaresma! Deixa que o amor te faça nascer de novo. Seja este o tempo favorável de reflorir e deixar frutificar em ti a santidade! Por isso, termino com um apelo, a partir de um anúncio publicitário, que dizia assim: “Sê razoável. Deseja o impossível”.

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