Liturgia e Homilias no XIX Domingo Comum C 2019 (10 e 11 agosto)
Destaque

Em pleno mês de agosto, o mês da mobilidade, das viagens e peregrinações, das férias e deslocações, iniciamos também a Semana Nacional das Migrações e dos Refugiados, tendo Abraão, nosso pai na fé, como figura histórica de referência, nesta busca errante de uma terra prometida. Ele é a imagem do crente peregrino e do crente que acolhe Deus, na pessoa do outro. Comecemos por reconhecer os nossos medos, fugas e indiferenças em relação aos últimos das nossas sociedades, a quem devíamos justamente dar o primeiro lugar.

Homilia no XIX Domingo Comum C 2019

1. Agosto foi, durante muitos anos, o mês dos emigrantes. Eles vinham passar as suas férias a Portugal e mudavam, por completo, a paisagem das nossas terras. Hoje, são menos, muito menos, apesar do recente movimento migratório no tempo da intervenção da “troika”. Entretanto, a Europa, e Portugal também, torna-se destino de imigrantes, de irmãos e irmãs, que fogem das suas terras, não à procura de um trabalho mais rentável ou de uma vida melhor, mas simplesmente para fugir à destruição da guerra, à fome e à morte. E nós, que outrora nos fizemos ao mar e fomos ao encontro de outros povos e culturas, tão distantes, estamos a reagir com medo, com egoísmo, com desumanidade, excluindo os imigrantes do nosso mundo, como se ele fosse apenas de alguns.

2.O Papa Francisco, na sua Mensagem para o Dia Mundial do Migrante 2019, recorda-nos, em sete afirmações, que não se trata apenas de migrantes. Trata-se, também, dos nossos medos, que nos privam do encontro com o outro.Trata-se da caridade para com aqueles que se iludiram com a prometida sociedade da abundância e da paz e encontram a fome e a violência; trata-se da nossa humanidade, que se manifesta naquela compaixão capaz de assumir o sofrimento do outro e passar, imediatamente, à ação para aliviar, cuidar e salvar; trata-se de não excluir ninguém, numa sociedade que torna os ricos mais ricos e os pobres mais pobres; trata-se de colocar os últimos em primeiro lugar; não se trata apenas de imigrantes; trata-se afinal da pessoa toda e de todas as pessoas. E, por isso e por fim, diz o Papa: trata-se de construir a cidade de Deus e do homem.

3.Esta última expressão reconduz-nos à figura de Abraão (cf. 2.ª leitura), nosso pai na fé; também ele era um imigrante, que morou como estrangeiro, na terra prometida, habitando em tendas, porque esperava a cidade de sólidos fundamentos, cujo arquiteto e construtor é Deus (Heb11,9-10)!

4. Na nossa época, muitas são as pessoas inocentes, vítimas da «grande ilusão» de um desenvolvimento tecnológico e consumista sem limites(cf. Laudato si’, 34). E, assim, partem em viagem para um «paraíso» que, inevitavelmente, atraiçoa as suas expectativas. A sua presença, por vezes incómoda, contribui para desmentir os mitos de um progresso reservado a poucos e construído sobre a exploração de muitos. Trata-se, então, de vermos, nós em primeiro lugar, e de ajudarmos os outros a verem, no migrante e no refugiado, não só um problema a enfrentar, mas um irmão e uma irmã a serem acolhidos, respeitados e amados; trata-se de uma oportunidade que a Providência nos oferece de contribuir para a construção de uma sociedade mais justa, de uma democracia mais completa, de um país mais inclusivo, de um mundo mais fraterno e de uma comunidade cristã mais aberta, de acordo com o Evangelho.

5. Por isso, este desafio das migrações leva-nos hoje a seguir as pegadas de Abraão, procurando construir a bela cidade de sólidos fundamentos, isto é, um mundo cada vez mais condizente com o projeto de Deus, assente sobre estes quatro pilares: acolher, proteger, promover eintegrar. Isto vale para os migrantes e refugiados, mas vale também para a missão da Igreja, a favor de todos os habitantes das periferias existenciais, que devem ser acolhidos, protegidos, promovidos e integrados.

Por conseguinte, não está em jogo apenas a causa dos migrantes; não é só deles que se trata, mas trata-se de todos nós, do presente e do futuro da família humana.Se pusermos em prática estes verbos, contribuiremos, então, para construir a cidade de Deus e do homem, para edificar o nosso mundo sob o desígnio de Deus, em que já não há «estrangeiros nem imigrantes, mas sim concidadãos dos santos e membros da casa de Deus» (cf. Ef 2,19).

 

Homilia inspirada em: Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado 2019

 

Top

A Paróquia Senhora da Hora utiliza cookies para lhe garantir a melhor experiência enquanto utilizador. Ao continuar a navegar no site, concorda com a utilização destes cookies. Para saber mais sobre os cookies que usamos e como apagá-los, veja a nossa Política de Privacidade Política de Cookies.

  Eu aceito o uso de cookies deste website.
EU Cookie Directive plugin by www.channeldigital.co.uk