Liturgia e Homilias na Solenidade da Santíssima Trindade | Ano C 2019
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Concluído o tempo pascal, retomamos agora o tempo comum, com a celebração da Solenidade da Santíssima Trindade. Em pleno Ano Missionário, proclamar e celebrar este mistério central da nossa fé no amor de Deus é também redescobrir o rosto missionário do nosso Deus, que é um Deus que sai de Si, que Se comunica, para nos alcançar a todos nós. O Pai envia o Filho e é, por isso, a fonte da missão. O Filho envia o Espírito Santo e é o grande missionário do Pai. O Espírito Santo é o protagonista da missão. Ele unge-nos para nos enviar ao mundo como discípulos missionários. Existe a missão, simplesmente porque Deus ama as pessoas e quer fazê-las participar da sua própria vida divina.

Homilia na Solenidade da Santíssima Trindade C 2019

1. Não há domingo em que me veja tão aflito para pregar como este da Santíssima Trindade. Não por ter sido fraco aluno a Matemática! Ainda sei aplicar a “regra de três simples”. Mas, para o caso, também não me vale de nada! Diria que a minha dificuldade maior é de ordem “informática”, pois é difícil reinstalar e deixar atualizar em mim este “software” de Deus, o Seu mais íntimo modo de ser e de agir. Não é fácil deixar-se “formatar” à imagem e semelhança de um Deus em que cada pessoa divina Se dá às outras e Se recebe das outras, para nos envolver e fazer participar a todos na beleza do Seu amor eterno e da Sua vida divina.

2. E sabemos que Deus é assim, porque Jesus no-lo revelou. No Evangelho de hoje, Jesus deixa algumas instruções, para compreender o seu “funcionamento”: “Tudo o que o Pai tem é meu” (Jo 16,15).E o Espírito Santo não faz outra coisa senão receber do Filho para nos anunciar a nós (cf. Jo 16, 14). É o Amor a chave deste mistério, pelo qual cada uma das pessoas divinas sai de Si, para nos alcançar a nós.

3. Para nos ajudar entrar neste mistério da Santíssima Trindade talvez melhor do que dar voz a um teólogo seja escutar três testemunhas simples: um treinador de futebol, um comentador político e o Papa Francisco.

3.1. “Clubite” à parte, ficou gravada em mim uma belíssima frase do jovem treinador do Benfica. Perante o elogio generalizado do seu surpreendente desempenho, Bruno Lage passou a bola e respondeu: “São os meus jogadores que estão a fazer de mim um treinador”. Boa regra trinitária: cada pessoa é o que é graças às outras. Assim, na Trindade, cada pessoa divina afirma-Se não pela anulação, desprezo ou exploração das outras, mas pela promoção e reconhecimento das outras.

3.2. Por isso, caiu-me tão bem o que disse o ex-jornalista e comentador político, João Miguel Tavares, no seu discurso, no Dia de Portugal: “Sozinhos somos ninguém. A velha pergunta bíblica “acaso sou eu o guarda do meu irmão?” tem uma única resposta numa sociedade decente: “Sim, és”. Num país algo desencantado, o grande desafio está em tentar desenvolver um sentimento de pertença que vá além dos prodígios do futebol»”. A Santíssima Trindade dá-nos este profundo sentido de pertença: tu não pertences a ti; tu és de alguém, com alguém, para alguém; somos todos da família de Deus. Somos todos filhos de Deus. Somos todos irmãos.

3.3. Por fim, perguntemo-nos: que consequências poderíamos tirar deste mistério da Santíssima Trindade, em pleno Ano Missionário? Escutemos agora a voz do Papa Francisco: “Da comunhão com Deus, Pai e Filho e Espírito Santo, nasce uma vida nova partilhada com muitos outros irmãos e irmãs. E esta vida divina não é um produto para vender, mas uma riqueza para dar, comunicar, anunciar: eis o sentido da missão. Recebemos gratuitamente este dom, e gratuitamente o partilhamos (cf. Mt 10, 8), sem excluir ninguém” (Papa Francisco, Mensagem para o Dia Mundial das Missões 2019).

4. Eis então, para ti, para todos, o grande desafio trinitário e missionário: “Sê homem de Deus, que anuncia Deus”. Pensemos e vivamos todos de acordo com isto: “Quem ama, põe-se em movimento, sente-se impelido para fora de si mesmo: é atraído e atrai; dá-se ao outro e tece relações que geram vida. Para o amor de Deus, ninguém é inútil nem insignificante. Cada um de nós é uma missão no mundo, porque fruto do amor de Deus. Que ninguém fique fechado em si mesmo” (Ibidem).

5. Existe a missão, não porque a Igreja quer a expansão do seu poder e influência, mas simplesmente porque Deus ama as pessoas e quer fazê-las participar da Sua própria vida divina. Não é, portanto, a Igreja que tem uma missão, para falar de Deus. É a missão de Deus, no Seu infinito amor pelos homens, que tem esta Igreja, para a missão, desde dentro em comunhão e sempre em saída, em missão: no amor, com amor, por amor.

 

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