Liturgia e Homilia no XIII Domingo Comum C 2016
Destaque

Em pleno Ano da Misericórdia, só faltava refletir, com mais vagar, nesta última obra de misericórdia corporal: enterrar os mortos! Mas o dia de domingo, dia do Senhor, dia da ressurreição e dia da alegria, não nos deixa presos à sepultura. A Páscoa do Senhor ilumina a prática desta obra, com a luz da esperança. 


HOMILIA NO XIII DOMINGO COMUM C 2016 


«Senhor, deixa-me ir primeiro sepultar meu pai»! (Lc 9,59)

1.Não é que, por azar, o pai tivesse morrido naquela hora e fosse necessário dar-lhe sepultura. Nesse caso, jamais Jesus o impediria de cumprir o último dever de piedade filial. Sepultar os mortos era, naquele tempo, uma ação de tal monta e de tal conta, que dispensava qualquer judeu das suas obrigações principais de oração e de todos os preceitos da Lei. Ora, o que se passa, é que este homem queria seguir Jesus, mas primeiro - é claro - tinha de tratar da sua vida e esperar que o seu pai morresse e fosse sepultado. E, depois, sim, com a herança no bolso, teria a vida livre de ocupações, para seguir Jesus, sem problemas. Ora, com esta vocação a médio prazo, Jesus não quer conversa! E, por isso, a sua aparente má resposta não se faz esperar: «Deixa que os mortos enterrem os seus mortos» (Lc 9,60). Jesus só quis dizer àquele homem que nada nem ninguém se pode antepor a Ele e que a vida não segue a olhar para trás. O que Jesus não gostou foi sobretudo daquele «deixa-me ir primeiro», porque “primeiro” está Ele, o Seu Evangelho e o Seu Reino.Eé preciso mudar e agarrar a vida, sem estar à espera que o pai morra!

 

2.Mas como, por agora, os mortos ainda não enterram os mortos e até já temos alguns vivos, prontos a ser pagos, para nos substituírem nesse cuidado, vale a pena, em pleno Ano da Misericórdia, dizer algumas palavras sobre esta primitiva e última obra de misericórdia corporal: «enterrar os mortos». Sei que preferíamos outros relvados, num tempo em que a morte já não faz parte do campo da nossa vida e tudo fazemos para manter os mortos “à distância” e “às escondidas”. Mas enterrar os mortos, por pouco higiénico que nos pareça, implica a capacidade de cuidar de quem nos morre. Ao morrer, como ao nascer, precisamos da misericórdia alheia. Por isso, “no dia em que o mandamento de sepultar dignamente os mortos for removido dos deveres dos filhos, dos companheiros, dos irmãos, dos amigos e delegado para as agências funerárias, a nossa humanidade, ficará irremediavelmente mais pobre” (Tolentino Mendonça,A Revista Expresso | Edição 2244 | 17/10/2015).Os ritos de sepultura são os mais antigos que a arqueologia nos permite encontrar. Por isso, a sepultura dos mortos revela o nível de humanização e o grau de civilização de uma sociedade humana. “Julga-se um povo, pelo modo como sepulta os seus mortos” (Péricles).

3. Para o cristão, o próprio ato de sepultar, com tudo o que implica, de homenagem e de gratidão, de oração e recordação, de lamento e sufrágio, de dor e compaixão, de despedida e de esperança, é a única forma de nos enfrentarmos com a nossa realidade mortal e de acolhermos a “morte” como «nossa irmã». Além do mais, “cuidar do corpo do defunto e visitar o seu túmulo alimenta a confiança no seu e no nosso encontro com o Senhor” (Papa Francisco, Homilia, 1.11.2015). Na verdade, quando já não se lembra, nem se chora, nem se reza a morte, também já não se professa a fé na ressurreição, já não se espera mais nada, para lá desta vida. Perdida a memória de quem parte, escapa o futuro a quem fica.

4.Valorizemos e redescubramos, pois, esta obra de misericórdia, participando dignamente, de corpo e alma, nos funerais; rezando por vivos e defuntos (2 Mac 12,44-45); e, sobretudo, fazendo memória de todos eles, na Eucaristia, pois “rezar por eles pode não só ajudá-los, mas também tornar mais eficaz a sua intercessão em nosso favor” (CIC 968)! Cuidemos e acompanhemos também as pessoas, no seu processo de luto, para que a sua relação com aquele que morreu não se perca no esquecimento, mas seja transformada pela esperança e pela expectativa do encontro. É com gestos silenciosos e simples, em torno da morte e da sepultura dos nossos familiares e amigos, que nos sentimos e nos tornamos mais irmãos, em Cristo morto e ressuscitado. Sepultar os mortos é, pois, uma obra de misericórdia a pôr em prática! É a última. Mas nem por isso a menos importante. 

 

HOMILIA NAS BODAS MATRIMONIAIS – XIII DOMINGO C 


 

1.Jesus tomou a firme resolução de se dirigir a Jerusalém” (Lc 9,51)! Doravante, Jesus segue em frente, sem que nada O demova de cumprir a vontade do Pai e de realizar a Sua obra. Jesus é realmente um homem livre, que não hesita em dispor da Sua vida, para no-la dar livremente e nos amar assim até ao fim.

 

2. Esta vontade invicta e esta liberdade incondicional, é uma pedrada no charco, de uma certa “cultura do provisório” (AL 39), em que se verifica uma certa “relutância, se não mesmo uma recusa, em tomar decisões definitivas na vida, inclusive no matrimónio” (Ecc. Eur. 8). Qualquer compromisso definitivo é, hoje, encarado como “um vínculo”, que ata, enforca ou “mortifica a liberdade individual”, como se “dispor de si e para sempre” fosse uma espécie de «nó cego» na própria liberdade, que se deveria definir como possibilidade de servir. Mas Jesus não deixa de propor aos discípulos um caminho, que estimula uma decisão definitiva, irrevogável e exclusiva. Com Jesus, não há opções a prazo, a meias, em part-time ou até ver. Mas decisões que comprometem a vida toda e para todo o sempre.

 

3. Assim é, e de modo especial, no Matrimónio, porque este é uma forma de seguimento de Jesus, um verdadeiro «caminho» de vida cristã, e não um atalho, de menor exigência, mas um caminho percorrido, com Jesus à frente, com Jesus ao meio, com Jesus ao lado e até com Jesus «atrás» e «por detrás» dos passos, mais audazes e difíceis. É um caminho, que não se compadece com escolhas múltiplas, com adiamentos ou aditamentos, mas implica uma decisão de coração, de «deixar pai e mãe», de deixar tudo e entregar-se todo, em função de um bem maior, em razão de uma escolha exclusiva e definitiva.“Esta firme decisão, que marca um estilo de vida, é uma «exigência interior do pacto de amor conjugal», porque, «quem não se decide a amar para sempre, é difícil que possa amar deveras um só dia»” (João Paulo II, cit.  AL 319).

 

4. Caríssimos esposos: ao cabo de 50 anos viestes à Igreja, renovar a recíproca escolha. Diz o Papa Francisco: “Não é possível prometer que teremos os mesmos sentimentos durante a vida inteira; mas podemos ter um projeto comum estável, comprometermo-nos a amarmo-nos e a vivermos unidos até que a morte nos separe, e viver sempre uma rica intimidade. O amor, que nos prometemos, supera toda a emoção, sentimento ou estado de ânimo, embora possa incluí-los. É um querer-se bem mais profundo, com uma decisão do coração que envolve toda a existência. Assim, no meio de um conflito não resolvido e ainda que muitos sentimentos confusos girem pelo coração, mantém-se viva dia a dia a decisão de amar, de se pertencer, de partilhar a vida inteira e continuar a amar-se e perdoar-se. Cada um dos dois realiza um caminho de crescimento e mudança pessoal. No curso de tal caminho, que dura a vida inteira, o amor celebra cada passo, cada etapa nova” (AL 163).

5. Queremos, por isso, celebrar esta vossa etapa jubilar. É caminho a percorrer, dia após dia. Mas tal não é “possível, se não se invoca o Espírito Santo, se não se clama todos os dias pedindo a sua graça, se não se procura a sua força sobrenatural, se não Lhe fazemos presente o desejo de que derrame o seu fogo sobre o vosso amor para o fortalecer, orientar e transformar em cada nova situação” (cf. AL 164).

O apelo final é para todos os casais e famílias aqui presentes: avancemos, famílias; continuemos a caminhar, sem desesperar nem desistir da meta. Aquilo que nos está prometido e está para vir é sempre mais e melhor. O vinho bom, o vinho melhor, o amor amadurecido, frutificado e temperado, virá no fim! E quando é bom, o amor é como o vinho: quanto mais velho, melhor! 

 

HOMILIA NO XIII DOMINGO COMUM C 2013


Onde houver encerramento da catequese (1)

 

1. Nós vamos de férias, à espera de dias mais fáceis. Mas Jesus, no evangelho de hoje, está a iniciar um duro caminho, que o conduzirá à Cruz e à morte em Jerusalém. E, neste caminho difícil há sempre alguém pronto a seguir Jesus, para onde quer que vá. E há outros a quem Jesus chama, exigindo plena liberdade, para O seguir.

 

2. Mas, o que, porventura, mais nos impressiona, na história dos três personagens, é esta exigência radical de Jesus, que não cede a negociações de última hora, não cede a quaisquer compromissos de afeto, que gozem de prioridade sobre Ele.

Pode parecer-nos que Jesus, ciumento, reclame, para si, o exclusivo de todos os nossos afetos, entrando em concorrência com os nossos laços de amor. Mas não. O que está em causa não é deixar de cumprir deveres de piedade filial ou de afeto familiar. O que está em causa é essa condição, que é posta à testa do contrato: «deixa-me ir primeiro sepultar o meu pai… deixa-me ir primeiro despedir-me da minha família»…

Aqui, a coisa a fazer primeiro indica a prioridade do coração, o que realmente preside aos nossos pensamentos, desejos e decisões. Esta coisa que está primeiro denuncia uma liberdade afetada pelas nossas coisas, mostra que há algo ainda que se antepõe e sobrepõe a Cristo, e que, desse modo, tira e retira a Cristo o Seu primeiro lugar!

 

3. Ora, o que Jesus nos quer fazer entender, é que não é possível segui-l’O a meias, segui-l’O – sei lá – a partir de amanhã, ou segui-l’O, numa espécie de ocupação temporária de tempos livres.

Muitas vezes, vivemos a fé, no seguimento de Cristo, como algo acessório ou secundário, algo a que daremos atenção se tivermos algum tempo, algo a que dedicaremos alguma atenção, se ainda nos sobrar algum tempo, depois de tantas coisas a fazer, ou algo a que, porventura, nos comprometeremos, se não houver ainda outro compromisso mais importante na agenda. Quantas vezes, ouvimos, dos mais pequenos aos mais adultos, frases como estas: “vou à missa, quando posso”; “irei à catequese, se não coincidir com o futebol”, ou “irei à missa, desde que não tenha matéria para estudar” ou “não pude vir, porque tive uma festa de anos de um amigo”. Deus deixa, assim, de ter o primeiro lugar na nossa vida e corre o risco de nem sequer ter lugar, depois de todas as coisas. Como diria São Francisco: o Amor maior não é Amado!

4. O tempo de férias, que se aproxima, é ainda mais tentador, para este tipo de desculpas, para esta espécie de fé a prazo e sob condição, desta fé sazonal, que surpreendentemente hiberna no Verão.

Ora, se há coisa que este tempo de Verão nos poderia dar é o sentido da gratidão e do reconhecimento a Deus, e da sua viva afeição para connosco. Se há coisa que este tempo nos poderia proporcionar é a graça de responder e corresponder a Deus, oferecendo-Lhe o que ele nos dá de graça: o próprio tempo. Neste caso, o tempo dado não é dinheiro. Mas é o custo pedido, pelo apreço com que nos ama e nos chama. Seremos verdadeiramente livres, na fé, se nos libertarmos da tralha de vida, que nos ata e domina, e dermos a Deus o seu primeiro e justo lugar. Neste Verão, entremos e mergulhemos todos na onda da fé! 

 

 

 

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