A Fonte das Sete Bicas

Este é o ícone principal da paróquia e da freguesia da Senhora da Hora. O número sete, símbolo da plenitude, aponta para os sete sacramentos, para os sete dons do Espírito Santo, para as sete virtudes, para os sete dias da semana... A água é, antes de tudo o mais, o símbolo natural da vida, da fecundidade, da purificação, de regeneração. Na Bíblia, a água torna-se verdadeiro “sacramento”, sinal sagrado da presença criadora e salvadora de Deus e é o elemento natural básico do sacramento primeiro da vida cristã: o Batismo. Obviamente que o número sete das “bicas” pretende dar significação religiosa a um culto pagão da fecundidade, associado à abundância da água neste local.

A origem desta fonte deve-se exatamente à existência de sete nascentes na Alameda das Sete Bicas, de água milagrosa para os mais antigos, de primeira qualidade nos finais do século XIX e inícios do século XX, até serem construídas as fábricas fronteiriças, dos Carrinhos a Norte e Oeste, a do Ribera a Este, que a poluíram, sendo que, no presente, é água imprópria para consumo humano, de acordo com análises que lhe têm sido feitas pelas entidades competentes.

Segundo a tradição, o sítio exato onde a Virgem Nossa Senhora da Hora apareceu foi no lugar Mãe d’água, cujo caudal tinha, na origem, várias nascentes, daí o topónimo de Sete Bicas. Trata-se certamente da tentativa de cristianização de um local pagão.

Conforme consta nas Memórias Paroquiais de S. Salvador de Bouças de 1758, a Alameda da Fonte das Sete Bicas era o antigo local sagrado da Senhora da Hora, por ali ter aparecido Nossa Senhora da Hora, ali se concentrarem três capelas do povo, designadamente a de S. Bartolomeu, mais antiga, com dependências e terreno anexo, cuja construção remonta possivelmente aos primórdios da nacionalidade ou até antes, a de Nossa Senhora da Hora, erguida em 1514 e a de Nossa Senhora da Penha de França, que não se sabe ao certo a data de construção da original.

A primitiva Fonte das Sete Bicas, anterior à capela de Nossa Senhora da Hora, encontrava-se ao centro do adro, em frente à referida capela. Em 7 de agosto de 1892, em Assembleia Geral [da Irmandade de Nossa Senhora da Hora e São Bartolomeu] estudou-se a forma de se efetuarem futuras obras. (…) Era imperiosa a mudança da Fonte das Sete Bicas, situadas no centro do adro, encostadas à parede que separava o adro do terreno da Irmandade de Nossa Senhora da Hora, para outro local, na direção Este-Oeste (…) Embora o orçamento para a obra não tivesse sido aprovado superiormente, procedeu-se à sua arrematação e caso não fosse aprovada ficaria sem efeito. Foi pouco tempo depois arrematada pelo único empreiteiro que apresentou proposta, Manuel Francisco Gomes que se comprometia a construir a obra, conforme a planta, em condições, pela quantia de 83$000 réis ao mesmo tempo que apresentou 10$00 de depósito, como garantia, que só receberia dois meses depois da obra concluída.

A sua arquitetura é simples, de linhas direitas, construída em granito. A sobrepor-se às Sete bicas existe um nicho, que teve outrora uma imagem tosca da Nossa Senhora da Hora, com o Menino Jesus ao colo, esculpida da mesma pedra.

Existe ainda um cruzeiro, colocado em 1940, por ocasião da comemoração dos 300 anos da restauração da independência de Portugal.

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