Liturgia e Homilias no XXIII Domingo Comum A 2023
Destaque

Setembro é o mês de todos os regressos: o regresso a casa e à família, o regresso à escola e ao trabalho, o regresso à comunidade paroquial e à vida pastoral. Ao celebrarmos o domingo, o primeiro dia da semana, sentimos o apelo do encontro com o Senhor e do reencontro com os irmãos. Olhando-nos uns aos outros, aqui reunidos, podemos exclamar, como o salmista: “Ó como é bom e agradável viverem os irmãos bem unidos” (Sl 133/132,1), porque “onde dois ou três se reunirem em Meu nome – disse Jesus– Eu estarei no meio deles” (Mt 18,2o).Mas, ao olharmos para o nosso lado, sentimos também a falta de quem não veio, de quem desertou, de quem desistiu ou se zangou. Somos todos chamados a sair ao encontro de cada irmão, para o atrair para Cristo, para o reconduzir à alegria da comunhão. 

 

 

Homilia no XXIII Domingo Comum A 2023 – forma mais longa

 

Dar o primeiro passo – dizem – é o que mais custa, em qualquer processo de reconciliação, como em qualquer aventura ou desafio da vida. Mas, tendo em vista os quatro passos da correção fraterna, propostos pelo Evangelho de hoje, parece-nos que o último passo é mesmo o mais difícil. Então, vamos lá, passo a passo:

 

1.O primeiro passo é sair de si mesmo e ir ter com o irmão; não com botas de guerra, nem de cima da burra. Só é legítimo olhar alguém de cima para baixo, quando o objetivo é levantar e reabilitar o irmão, depois da sua queda. Há que fazê-lo, como quem dá e estende a mão, com delicadeza, prudência, humildade, de um pecador a outro pecador. Tu a tu. Olhos nos olhos. Coração a coração. Assim, seja na correção fraterna, seja na pregação, seja num apelo de missão, resulta sempre mais a palavra pessoal, o convite personalizado, a chamada pelo nome. É importante que cada um se sinta, diante de nós, pessoalmente amado, reconhecido, necessário, com futuro. Na correção fraterna, no convite à missão, não caiamos na tentação de apelos genéricos, porque quem escuta, pensa sempre que o destinatário é o vizinho. Então, o 1.º passo é este: vai ter com o teu irmão. A sós. “Se te escutar, terás ganho o teu irmão” (Mt. 18,15). Teremos todos ganho um irmão!

2. O segundo passo, no caso de não funcionar o primeiro, é o de reunir duas ou três testemunhas. Não para fazer um cerco ao pecador, mas para evitar a ira, o rancor e o ruído da multidão e assim ajudar o irmão a perceber a gravidade do seu erro. Ora, a força destas testemunhas põe de relevo a importância de um pequeno grupo, quando, por exemplo, se pretende convidar alguém, dizendo-lhe: “nós gostamos muito de ti”, “nós queremos o melhor para ti”.  Ou, no caso de um convite pastoral, é belo dizermos juntos: “nós precisamos muito de ti”. Afinal somos todos corresponsáveis por todos!

3.O terceiro passo alarga a responsabilidade do pequeno grupo à comunidade. Se os dois passos anteriores falharem, “comunica-se o caso à Igreja” (Mt 18,17). Toda a comunidade, tal como numa família, sofre e se enfraquece quando um membro falha. E toda a comunidade, como numa família, se alegra e enriquece quando um membro se regenera e se compromete. Por isso, a comunidade é sujeita, mediadora e destinatária desta reconciliação. Na missão, por exemplo, temos de ter claro também que não a vivemos por nossa própria conta e risco, mas sempre no seio de uma comunidade, que é a Igreja, ao serviço dos irmãos.

4.O quarto passo parece, à primeira vista, resumir-se a uma sentença de exclusão, de excomunhão: “se não der ouvidos à Igreja, considera-o um pagão ou publicano” (Mt 18,17). Mas, bem vistas as coisas, o passo é outro. Pensemos como Jesus escolheu o próprio Mateus, o publicano(Mt 9,9-12); pensemos como Jesus se aproximava dos publicanos e pecadores e comia com eles (Lc 15,2); pensemos como o Bom Pastor procura a ovelha perdida até a encontrar (Lc 15,4-7). Portanto, aqui, o título de pagão ou publicano não é uma palavra de expulsão; é um desafio a colocar mais amor onde falta o amor, a acrescentar misericórdia onde não há contrição, a multiplicar os esforços na busca do irmão perdido. Jesus parece dizer-nos: “nunca dês por perdido o teu irmão”, nunca desistas de ninguém. Por isso, este é, talvez, o passo mais difícil, o mais radical: não abandonar ninguém à sua sorte, não desistir de ninguém, mas amar ainda mais essa pessoa, rezar por ela, entregá-la à graça de Deus e procurá-la sem desistir, até a encontrar, movidos sempre por aquele amor que tudo espera (1 Cor 13,7).

5.Irmãos e irmãs: neste princípio de ano pastoral, com a Igreja em processo sinodal, estes quatro passos da correção fraterna inspiram-nos quatro orientações pessoais e pastorais, para sermos e fazermos a Igreja, que Deus sonha, apesar de sermos todos pecadores.

Em jeito de síntese, digo-te assim: 

1.        Prefere chamar pelo nome… a chamar nomes!

São mais eficazes a relação fraterna, o apelo nominativo e o contacto pessoal do que os chamados apelos genéricos!  Usa mais o «tu» do que o «vós».

2.        Prefere a escuta humilde do coração aos boatos e clamores da multidão. Pratica a verdade na caridade (Ef 4,15). Nunca o amor sem verdade.

Nem a verdade sem amor. Seja o amor o motor do teu coração, dos teus ouvidos, da tua boca, das tuas mãos, dos teus pés, em direção ao teu irmão.  Usa mais o «nós» do que o «eu».

3.       Prefere o trabalho em equipa, em grupo, em comunidade, ao teu alto desempenho individual.

Acredita mais na força da oração e do trabalho em comum, do que nas tuas capacidades.  Usa mais o «nós» do que o «vós».

4.       Prefere a misericórdia e a inclusão à condenação e à exclusão. Nunca desistas de procurar o teu irmão, até o encontrares e te reconheceres nele!

 

Em todo o caso, e sempre, meu querido irmão, minha querida irmã, lembra-te disto: Deus fez-te guarda (Gn 4,9)e sentinela do teu irmão, da tua irmã (cf. Ez 33,7-9)!

 

 

 

 

 

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