Liturgia e Homilias no 6.º Domingo do Tempo Comum A 2023 (Dia Mundial do Doente)
Destaque

Subimos, uma vez mais, à montanha, para escutar Jesus. Saímos de nossas casas e viemos até aqui, até ao altar de Deus, para escutar a Palavra de Seu Filho e acolher a Sua presença no nosso coração. Continuamos a escutar o longo ensinamento de Jesus aos Seus discípulos, no chamado Sermão da Montanha. A Palavra de Deus, desde a 1.ª leitura, põe-nos hoje diante de escolhas: “o fogo e a água, o bem e o mal, a vida e a morte” e podíamos dizer “a indiferença ou a compaixão, o descarte ou o cuidado dos irmãos”. “O que cada um escolher, isso lhe será dado” (Sir 15,17). Ainda marcados pelo contexto do Dia Mundial do Doente, nós queremos escolher o amor pela vida (cf. Dt 30,15.19), a compaixão, o cuidado dos irmãos (cf. Lc 10,25-37), como opção de liberdade.

Homilia no VI Domingo Comum A 2023

1.O Sermão da Montanha põe-nos diante de escolhas decisivas: a escolha da vida ou da morte, a escolha do amor desinteressado ou do instinto egoísta, a escolha da verdade ou da mentira. Não se trata já e simplesmente de não matar, mas também de cuidar, de proteger e de promover a vida, desde o seu instante inicial ao seu ocaso natural; não se trata agora e simplesmente de regular ou de controlar o desejo sexual, mas de preencher de amor e mais amor todas as palavras e gestos de afeto; não se trata apenas de não jurar falso, mas de dizer sempre a verdade e sobretudo de viver na verdade. Jesus não se contenta com os mínimos da Lei antiga. Pede-nos para escalarmos mais alto o nosso coração, para ligarmos os máximos, na condução da nossa vida, dando a vida pela vida, o amor pelo amor, a verdade pela verdade!

2.Mas, à cabeça destas escolhas, está obviamente a mais decisiva: “Diante do homem estão a vida e a morte: o que ele escolher, isso lhe será dado” (Sir 15,17)! Noutra passagem da Escritura, diz Moisés ao Povo: “Coloco diante de ti a vida e a felicidade, a morte e a desgraça. Escolhe, portanto, a vida, para que tu e os teus descendentes possais viver” (Dt 30,15.19). Este é um convite a optar pela vida contra a morte, entendida aqui a vida como um dom e um compromisso, uma responsabilidade, isto é, uma resposta de amor da minha vida dada à vida dos outros. A vida que me é dada é para ser dada. Por isso, a vida que me é retirada, mesmo se a meu pedido, é sempre uma vida negada ou sonegada aos outros. A verdadeira qualidade de vida não está, primeiramente na autonomia e na independência do meu suporte físico, na ausência de dor e de sofrimento. É o amor, pelo qual a vida se recebe e se dá, se cuida e protege, que garante a qualidade moral da nossa vida. A liberdade, que se invoca para dispor da própria vida, só se cumpre quando alguém dispõe da vida para os outros e não quando nega aos outros o dom da sua própria vida. Não há liberdade verdadeira, onde a vida, cada vida humana, não for acolhida e amada. O amor pela vida é uma opção de liberdade.

3.No contexto do Dia Mundial do Doente (celebrado neste sábado) queremos reafirmar o valor da vida humana, mais ainda quando o Parlamento português se prepara para revogar o mandamento «não matarás», com a proposta mais que reciclada de legalização da eutanásia a pedido do doente. Para nós, e para quantos partilham connosco a defesa do direito inviolável à vida, o mandamento «não matarás» (Ex 20,13; Mt 5,21) não é para ser revogado; é para ser completado (cf. Mt 5,17)com aquele outro imperativo ético: «amarás a vida, cuidarás da vida: da tua e da do teu irmão; serás cuidador do teu irmão; aceitarás estar sob os cuidados do teu irmão».

4.Sabemo-lo bem: “a doença pode tornar-se desumana, se for vivida no isolamento e no abandono, se não for acompanhada pelo desvelo e pela compaixão” (Papa Francisco, MDMD 2023). Portanto, perante o sofrimento de grande intensidade, diante da doença grave ou incurável, a solução não é a eutanásia, mas sim a garantia de todos os cuidados de saúde; é a promoção de práticas solidárias, de proximidade, compaixão e de ternura, em vez do abandono das pessoas doentes ao desespero. Quantas vezes, o pedido para pôr fim à vida não é um grito por ajuda, companhia, compaixão? Na boca de um cuidador, de um profissional de saúde, nunca se dirá: «não há nada a fazer», mas sim: “Curar, se for possível; cuidar sempre”!

5.Irmãos e irmãs: aprendamos a caminhar juntos nesta fragilidade, que faz parte da nossa condição humana. A fragilidade do outro revela também a minha fraqueza e, nesse sentido, desperta a consciência de que todos somos frágeis, todos precisamos do cuidado de todos! Façamos, pois, da fragilidade abraçada e partilhada uma força poderosa, na construção de um mundo mais fraterno; façamos da fragilidade uma força que nos une, que nos humaniza e fraterniza, que nos torna mais pessoas e mais irmãos.......

 

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P. E oremos:*

 

Esta oração pode concluir a homilia e/ou substituir a Oração dos Fiéis.

Pode ser feita pelo Presidente, por um ou vários leitores.

 

1.Senhor, nosso Deus, fonte do amor:

hoje ouvimos a Tua Palavra que nos desafia a escolher a vida,

e queremos sinceramente escutar o Teu convite

a renovar o nosso compromisso e a nossa vontade livre

de amar cada irmão, cada irmã, de respeitar a sua dignidade

e de promover sempre a sua vida.

 

Mas também devemos reconhecer

que somos muito frágeis e indecisos.

Fechados nas nossas mesquinhezas e no nosso egoísmo,

nem sempre sabemos cuidar de quem sofre,

nem sempre nos decidimos pelo amor ao próximo.

 

2.Senhor Jesus, Bom Samaritano,

faz com que a nossa liberdade

se deixe interpelar pelo rosto de cada pessoa,

sobretudo de quem está mais só ou mais doente,

de quem é mais pobre, mais pequeno, mais indefeso,

ou de quem sofre mais

e assim esta nossa liberdade se realize

no dom sincero da própria vida.

 

Purifica o nosso coração e a nossa vida

de todo o egoísmo e de toda a tentação de afirmação pessoal,

que muitas vezes ignora e não respeita

a dignidade e a vida do outro.

 

3.Com o dom do Teu Espírito Santo,

abre a nossa liberdade ao amor que sabe dar-se

e comunicar-se aos outros, sem reservas,

e transforma-nos à imagem de Jesus,

que, sobre a Cruz, Se entrega livremente

para dar a vida pelos irmãos.

 

4.Senhor, Luz do mundo, iluminados por Ti,

faz com que saibamos ver o reflexo do esplendor do Teu rosto

no rosto cada pessoa,

no pequeno rosto da criança que ainda não nasceu,

no rosto triste de quem foi atingido pela doença e pela marginalização

e no rosto cansado do idoso e do moribundo.

 

5.Ó Deus, Amante da Vida,

infunde a Tua graça, a Tua força e a Tua consolação

em todos os profissionais de saúde, nos médicos e enfermeiros,

nos cuidadores informais e familiares, profissionais e institucionais,

que gastam, dia a dia, as suas melhores energias

no cuidado e no serviço amoroso

de cada irmão, de cada irmã.

E faz com que também assim testemunhemos, no mundo,

a verdade alegre de que o amor pela vida é realmente

uma opção de liberdade.

Ámen.

 

* Adaptado de CARLO MARIA MARTINI,

Testemunhar que o amor pela vida é uma opção de liberdade.

Reflexão sobre o tema da Vida, Milão, 27.04.1991,

in CARLO MARIA MARTINI, Aonde vais família,

Ed. São Paulo, Lisboa 1996, 167-181 [181-182].

 

 

 

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