Liturgia e Homilias no 2.º Domingo do Advento A 2022
Destaque

João Batista é agora a voz que clama no deserto: «preparai os caminhos do Senhor, endireitai as suas veredas». E isto – pelos vistos – não vai com falinhas mansas ou palavras de circunstância. Ele aponta para o machado já posto à raiz das árvores e, por isso, dirá ele, ‘toda a árvore que não dá bom fruto será cortada e lançada ao fogo’. Ora, nós sabemos que aquilo que a árvore tem de flor e de fruto vive do que tem escondido nas suas raízes. Por isso, neste Domingo, queremos aprender a cuidar das raízes, atentos à palavra de Isaías: “sairá um ramo do tronco de Jessé e um rebento brotará das suas raízes” (Is 11,1-10).

Homilia no II Domingo do Advento A 2022

1. O Natal tem antigas e profundas raízes, na Liturgia da Igreja, na história viva da nossa cultura, na nossa memória pessoal e familiar. É a festa dos presentes. Sim. Mas é também a Festa das nossas raízes, onde se tornam presentes, à mesa da Ceia, os avós e bisavós com as suas histórias de vida, os pais e os filhos naquela ansiosa troca de presentes, os netos e bisnetos, com a sua alegria rebelde a abrir-nos os olhos do futuro. A primeira, a mais bela e a mais verdadeira árvore de Natal é sempre esta árvore genealógica, em que as raízes, o tronco, os ramos e os rebentos crescem unidos pelos fios invisíveis do sangue e da vida, da fé e do afeto, que se transmitem de geração em geração. 

2. O Profeta Isaías, ao falar-nos do Messias que havia de chegar, compara-O a um Rebento que brotará das raízes, a um Ramo saído do tronco de Jessé (cf. Is 11,1-10). Jessé é o nome do pai do Rei David, de cuja descendência – segundo a Promessa – nasceria o Messias, o Ungido do Espírito do Senhor. O Natal de Jesus tem, portanto, raízes eternas no desígnio de Deus, mas tem igualmente raízes terrenas, que remontam a Abraão e a Adão, que entroncam na nossa humanidade concreta de ontem, de hoje e de sempre. Jesus não é um meteorito caído do Céu. É uma criança, um jovem, um adulto, com raízes na sua família, na sua terra, na sua gente, na sua cultura judaica. Jesus, o bendito fruto do ventre de Maria, tem as suas longas e profundas raízes numa bela história de vida e de salvação.

3. Na verdade, o que a árvore tem de florido vive sempre daquilo que tem escondido nas raízes, que penetram a terra. Se queremos ver a árvore da nossa vida florir e dar bons frutos, cuidemos das raízes. O presente, o dom do Amor de Deus, que agora se faz presente em Jesus Cristo, é também Ele um Rebento que é preciso acolher, abraçar, cuidar com amor, para que possa frutificar em nós. Por isso, o desafio desta 2.ª semana do advento é o de cuidarmos das nossas raízes. Só a partir daí podemos crescer, florescer e frutificar (cf. Ch.vivit, 182). Como são importantes as nossas raízes! Sentimo-lo especialmente junto da árvore e na Ceia de Natal. Mesmo quando essas raízes mergulham no silêncio fecundo da terra e frutificam já no Céu, elas continuam, ainda assim, a alimentar a nossa vida, de memórias, de referências, de exemplos, de ensinamentos, de sabedoria, de gestos, de ternura, de bênçãos.

4. Irmãos e irmãs: somos chamados a abraçar o presente de Natal, que é Cristo vivo. E este abraço, com vistas largas para a JMJ 2023, tem este ano um especial desafio: o de acolher jovens do mundo inteiro, não só em Lisboa, na 1.ª semana de agosto, mas também entre nós, na última semana de julho. Saibamos acolher-nos uns aos outros como Cristo nos acolheu (cf. Rm 15,47). Tornemo-nos famílias de acolhimento. E que este acolhimento seja uma bela experiência de escuta, de diálogo e de encontro entre mais velhos e mais novos, de modo que os jovens e os anciãos possam sonhar juntos, caminhando mais devagar, para poderem chegar mais longe. “É impossível uma pessoa crescer, se não possuir raízes fortes que a ajudem a estar firme de pé e agarrada à terra” (Ch.vivit, 179).

5. Se caminharem juntos, jovens e idosos, poderão estar bem enraizados no presente e, daí, visitar o passado e o futuro: visitar o passado, para aprender da história e curar as feridas que às vezes nos condicionam; visitar o futuro, para alimentar o entusiasmo, fazer germinar os sonhos, suscitar profecias, fazer florescer as esperanças (cf. Ch.vivit, 199).  Nesta 2.ª semana do Advento dediquemos algum tempo a este encontro, a esta paciente escuta, a esta lenta conversa, a esta brincadeira sábia entre mais velhos e mais novos, entre (bis)avós e (bis)netos. Não para idolatrar a juventude nem para descartar os idosos como papel de embrulho. Mas para cuidar das raízes, que sustentam com firmeza e riqueza a nossa vida.

Então abraça o presente de Natal. O presente de Natal é Cristo vivo. Lembra-te: o presente é um Rebento. Por isso, cuida bem das tuas raízes!

 

 

 

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