Liturgia e Homilia na Quinta-Feira Santa 2022
Destaque

Neste início do Tríduo Pascal, desejamos ardentemente, mais do que nunca, celebrar a Páscoa da Paz. Desejamo-la para nós e para o nosso mundo, sobretudo para o atormentado povo da Ucrânia. E esta é a noite em que o Senhor, no Seu Discurso de Despedida, nos deixa a promessa e o dom da Paz. Esta é a noite em que Jesus realiza gestos de Paz.  Ele inclina-se sobre nós e lava-nos os pés. Ele chama-nos amigos. Ele põe-nos à Sua mesa. Ele confia-nos a memória viva de todos os Seus gestos de amor.

 

HOMILIA NA QUINTA-FEIRA SANTA 2022

Na Última Ceia, há um Discurso de Despedida, com a Promessa e o dom da Paz. Durante a Ceia há gestos significativos, que realizam a obra da Paz. Esta é a noite, em que Jesus transforma a traição de um amigo numa entrega de amor; esta é a noite em que a violência brutal dos homens é vencida pela mansidão, pelo perdão e pelo dom da vida de Jesus, sacrificada por todos nós. 

1. Meditemos, em primeiro lugar, na Promessa e no dom da Paz, no contexto do Discurso de Despedida, que ocorre precisamente durante a Última Ceia. A Promessa e o dom da Paz são uma marca indelével do testamento espiritual de Jesus, quando diz aos discípulos: «Deixo-vos a paz, dou-vos a minha paz. Não vo-la dou como o mundo a dá» (cf. Jo 14,27). O mundo dá a paz do «bem-estar», uma paz de sofá, confortável, narcisista, uma paz de luxo, paga e dispendiosa, uma paz que nos isola, anestesiados, para não sermos incomodados. Ou então uma paz armada e negociada pelos grandes! A paz que Jesus nos dá é outra: é gratuita, é dom do Seu amor em nós, é uma paz inquieta, é a paz dos pequeninos, a paz que nos faz sair de nós mesmos, sujar as mãos, lavar os pés, ir à luta, abraçar as dificuldades, criar laços, fazer comunidade. Esta Paz é o dom da Páscoa do Senhor!

2. Em segundo lugar, meditemos nos gestos abissais da Última Ceia. Não há mais o cordeiro imolado e o seu sangue aspergido. Há apenas o Pão e o Vinho sobre a mesa e, por meio deles, o sinal que antecipa e realiza o sacrifício do Corpo entregue e do Sangue derramado de Jesus. Na Ceia, por antecipação, como depois na Cruz, em carne viva, Jesus não vem com o sangue alheio, mas com o próprio Sangue; Ele não põe os seus pecados sobre as costas de outros – animais ou criaturas humanas –, mas põe os pecados dos outros sobre as suas costas. Em Cristo, é Deus Quem se faz vítima por todas as vítimas. Não são mais os seres humanos que oferecem sacrifícios a Deus, para aplacar a sua ira e atrair o favor da paz. Não. É o próprio Deus que Se sacrifica a Si mesmo pela Humanidade, entregando à morte, por todos nós, o Seu Filho Unigénito (cf. Jo 3,16). Cristo vence a violência, não opondo uma violência maior, mas suportando-a e expondo toda a sua injustiça e inutilidade. Por isso, diz Santo Agostinho que, na Cruz, Cristo fez da vítima o verdadeiro vencedor: “victor quia vitima”, vencedor porque justamente vítima. Esta novidade do sacrifício de Cristo põe fim a qualquer justificação de guerra santa ou de uma aliança inaceitável entre o sagrado e a violência.

3. A Eucaristia renova, em cada tempo, o acontecimento da Cruz, celebrando-O e não repetindo-O. Celebra-O, renovando-O e não apenas recordando-O. Por isso, graças à celebração da Eucaristia, aquele “não” absoluto de Deus à violência, pronunciado na Cruz, é mantido vivo, atual e presente, ao longo dos séculos e assim chega até nós. A Eucaristia apresenta-se como o “sim” de Deus às vítimas inocentes, o lugar onde todos os dias, todo o sangue derramado na terra e na guerra, também o da guerra na Ucrânia, se une ao Sangue de Cristo!

4. Irmãos e irmãs: a Eucaristia é, por sua natureza, Sacramento da Paz, fonte inesgotável de Paz. O dom da Paz atravessa, aliás, toda a celebração da Eucaristia: Começamos com uma Saudação de Paz. O Hino do Glória é uma súplica de Paz. As ofertas levadas ao altar implicam a prévia reconciliação com os irmãos. Nas várias orações da Missa e nas Orações Eucarísticas rezamos pela Paz. Durante os Ritos da comunhão, a Igreja suplica ao Senhor que dê «ao mundo a paz em nossos dias». E quem não anseia tanto pelo rito da paz, de que a pandemia nos impediu? Antes ainda de comungar, invocamos o Cordeiro de Deus, para que nos dê o perdão e a Paz. A nossa celebração conclui-se com a Despedida da Assembleia na Paz de Cristo. Neste sentido, quem participa na Eucaristia deve empenhar-se, na edificação da Paz de Cristo, dentro de si, em sua casa e à sua volta, com palavras e gestos de diálogo, de aproximação, de perdão e de reconciliação.

Invoquemos este dom imenso e frágil, ao longo destes três dias de luta, para alcançarmos e celebrarmos juntos uma verdadeira Páscoa de Paz.

 

 

 

 

 

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