Liturgia e Homilias no XX Domingo Comum A (19 e 20 agosto 2017)
Destaque

Depois de termos celebrado a mais perfeita realização da fé em Maria, no passado dia 15, somos convocados, mais uma vez, neste domingo, a louvar e a engrandecer a fé de uma mulher, de uma mulher estrangeira. 

Homilia no XX Domingo Comum A 2017

1.“Um homem não se mede aos palmos”, diz o povo, e a fé de uma mulher também não se mede a metro, como a devoção exposta num andor não se mede pela altura! “Mulher, grande é a tua fé. Faça-se como desejas” (Mt 15,28), responde Jesus a esta pequena e pobre mulher estrangeira, que, sem o saber, derruba a fronteira da fé do velho Israel. Ela vem de fora, do mundo pagão, vem de entre os gentios, dos povos estrangeiros, dos estranhos à fé de Israel. E, todavia, esta mulher, de outra cultura, sem a prática religiosa judaica, sem a catequese semanal dos escribas, é apontada por Jesus, como exemplo de fé, diante daqueles que enchiam, aos sábados, o templo de Jerusalém, chamado a ser, e sem o ser de facto, “casa da oração, para todos os povos” (Is 56,7).

 

2. Muitas vezes, na minha vida pessoal e pastoral, me tenho encontrado com mulheres assim. Às vezes, mães solteiras, outras vezes mulheres abandonadas, outras vezes mulheres estranhas à comunidade, que não conhecem os cantos da casa da Igreja! Mas quando se trata de lutar por um filho que querem dar à luz, ou de cuidar sozinhas de um filho que o pai negou, ou de pedir ajuda para um filho que a sociedade rejeitou, estas mulheres transcendem-se, transfiguram-se, são capazes de se humilhar, de rastejar, de se submeter a tudo para proteger, guardar e salvar o fruto do seu ventre. E, mesmo quando se trata de batizar um filho, a quem, porventura, o padre põe algumas condições, vejo tantas mulheres a redescobrir o seu especial fio de ligação com o mistério da vida e a testemunhar uma fé, que me deixa tão pequenino, tão comovido e tão humilhado! Quantas vezes, no atendimento, na confissão, tive de dizer a uma mulher: “É grande a tua fé”. Há tempos, veio uma mãe pedir o batismo do seu filho, uma mãe que nem sequer era batizada e o pai da criança tampouco tinha iniciado qualquer percurso de vida cristã. Perguntei-lhes como poderiam educar na fé o seu filho, que queriam batizar. E a mãe, muito jovem, respondeu-me: “Senhor padre: com o meu filho, que está a crescer, também eu estou a aprender a ser mãe; não tirei nenhum curso para isso. Com o meu filho, se for batizado, eu quero aprender a ser cristã, quero acompanhá-lo e assim também eu vou poder crescer na fé com ele”. Creio que nenhum professor de pastoral iria tão longe na resposta! Outra mãe dizia-me, a respeito de algumas homilias, em linguagem muito simples, nas missas com a catequese: “Senhor padre, não se preocupe em falar esta linguagem, para chegar às crianças, quando estão tantos pais e adultos na missa; sabe, quanto à fé, nós somos da idade dos nossos filhos”. E, numa visita a uma doente, escuto uma mulher que, sozinha, tomava conta da sua mãe, inteiramente dependente de si: “Ainda que eu tenha de comer só uma tigela de caldo para cuidar da minha mãe, eu o farei; mas não entrego a minha mãe aos cuidados de ninguém”.

3.Todos, por certo, conhecemos histórias de vida e de fé, onde as mulheres sempre nos levam a palma! Mulheres, quantas vezes, mal-amadas, mal olhadas, mal recebidas, às vezes estranhas, estrangeiras, perdidas ou desconhecidas. É preciso acolhê-las, ouvi-las, escutar os seus gritos de socorro, porque elas têm muito a dar-nos e a ensinar-nos. Ignorá-las, afastá-las, recusá-las é negar a vida, é renunciar à própria fé, é hipotecar o futuro. Recordo e concordo com o Papa Francisco, quando diz que a mulher faz falta, na sociedade e na Igreja, não tanto por aquilo que faz, mas por aquilo que nos oferece. “É a Mulher que traz ao mundo aquela harmonia que nos ensina a acariciar, a amar com ternura e que assim torna belo o nosso mundo. A mulher é harmonia, é poesia, é beleza. Sem ela o mundo não seria tão bonito, não seria harmónico” (Meditação Matutina, 09.02.2017). Irmãos e irmãs: em cada mulher, que é grande pela sua fé, aprendamos a redescobrir o rosto de Maria, a Mãe de Deus, que se tornou grande, pela mesma razão, por causa da sua fé: “Feliz és Tu porque acreditaste” (Lc 1,45).


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Homilia Breve no XX Domingo Comum A 2017

 

“Muitas vezes, na vossa vida cristã, seremos tentados – como os discípulos no Evangelho de hoje – a afastar o estrangeiro, o necessitado, o pobre e quem tem o coração despedaçado. E, no entanto, são sobretudo pessoas como estas que repetem o grito da mulher do Evangelho: «Socorre-me, Senhor!».

A invocação da mulher cananeia é o grito de toda a pessoa que está à procura de amor, de aceitação e de amizade com Cristo. É o gemido de tantas pessoas nas nossas cidades anónimas, a súplica de muitos dos nossos contemporâneos, e a oração de todos os mártires que ainda hoje sofrem perseguição e morte pelo nome de Jesus: «Socorre-me, Senhor!». Muitas vezes, é um grito que brota dos nossos próprios corações: «Socorre-me, Senhor!».

Dêmos resposta a esta invocação, não como aqueles que afastam as pessoas que pedem, como se a atitude de servir os necessitados se contrapusesse a estar mais perto do Senhor. Não! Devemos ser como Cristo, que responde a cada pedido de ajuda com amor, misericórdia e compaixão”.

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