Liturgia e Homilias no XIX Domingo Comum A 2017
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Agosto, o mês das férias, não nos dá tréguas! Agitados pelas crises e tempestades, gritamos por Deus, como se Ele estivesse distante. Está connosco e entre nós. Simples e discreto, na voz de um fino silêncio. 

Homilia no XIX Domingo Comum 2017

1. Longe vai o tempo, em que eram escassas as notícias no mês de agosto! Mas este agosto de 2017 está recheado de dramas e desassossego! O país não para de arder e parece não aprender nada com a desgraça deste e dos últimos anos! As boas notícias cheiram a campanha eleitoral. Na hora de escrever o texto desta homilia recebo a notificação de que “os Estados Unidos têm solução militar pronta e carregada contra a Coreia do Norte”. Nos noticiários nacionais ignoram-se premeditadamente notícias de perseguições a cristãos: na República Centro-Africana, a morte de 50 pessoas, numa missão católica em Gambo. No passado domingo, um ataque à Igreja de São Filipe, em Ozubulu, na Nigéria, que causou 13 mortos e 26 feridos. Para estes nossos irmãos, ir a uma Igreja ao domingo não é um luxo de fim-de-semana ou um compromisso descartável, pois arriscam assim a própria vida. Exemplos de fé, que nos deviam fazer tremer e corar de vergonha, quando, por cá, trocamos a missa dominical, por mais umas horinhas de sono ou de cabeça metida na areia…

2. Por isso, a imagem da barca, em apuros, nesta tempestade, que veio estragar a “bela sesta”, de Pedro e seus companheiros, não é apenas o símbolo da nossa fé, posta à prova, quando menos se espera, nem é exclusivamente a imagem da Igreja, “a meter água, por tantos lados”, por causa de tantos escândalos, que trazem à tona da água a severa advertência de Jesus ao criminoso: «mais valia que lhe suspendessem do pescoço a mó de um moinho e o lançassem nas profundezas do mar»(Mt 18, 6; cf. Mc 9, 42; Lc 17, 2).Esta barca agitada é também o símbolo dos nossos tempos de desassossego, desta sociedade líquida, em que todos vivemos e naufragamos, ao som dos violinos, que lentamente nos adormecem.

3.Ao concluir esta semana das migrações, associo espontaneamente esta barca agitada à de tantos refugiados, que atravessam o Mediterrâneo, a fugir, como Elias, dos ventos da violência, da terra destruída pelo fogo das armas. Eles gritam, como Pedro a Jesus, a esta velha Europa: salva-nos que perecemos. E em vez daquela mão estendida de Jesus, que segurava Pedro, quando estava prestes a afundar-se, e em vez de responder a este clamor, dizendo, como Jesus, “vem”, estou aqui para te acolher, proteger, promover e integrar, o que é que acontece? Ignoramos os gritos, deixamos lançar ao mar e morrer à boca da barra, junto às nossas praias de turismo, os que fogem do horror e procuram uma terra de paz e segurança, um teto de abrigo, um trabalho digno e em melhores condições. Num relatório, curiosamente intitulado "uma tempestade perfeita", a Amnistia Internacional estima que 2017 seja o pior ano de sempre, em termos de mortes no Mediterrâneo. O documento diz que a Europa, em vez de acolher o futuro, nestas novas gerações, virou costas aos refugiados e aos migrantes, dando prioridade a "acordos imprudentes" com a Líbia.

4. Por ocasião do Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, o Papa Francisco chama a atenção para a realidade dos migrantes de menor idade, pedindo a todos, para cuidarem das crianças, que são pessoas três vezes mais vulneráveis, porque são de menor idade, estrangeiras e indefesas.

5.Sei bem, queridos irmãos e irmãs, que sou altamente inconveniente, neste domingo quente de agosto, acordar-vos assim do sono ou do sonho, aos gritos e com alertas vermelhos… Mas o caso não é para menos: há tempestades de verão, no monte ou no mar. “Vemos, ouvimos e lemos. Não podemos ignorar” (Sophia Mello Breyner).

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